sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

J'ai eu aussi mes 15 ans


Entre os anos 50 e 60, embora já estivéssemos sendo maciçamente invadidos pela cultura norte americana barata do pós-guerra, da França nos chegava a Nouvelle Vague, movimento do cinema novo francês, do país que até os anos 50 tinha sido o berço da cultura humanística. Nas escolas de segundo grau a língua francesa era ensinada, assim como a inglesa e a espanhola.
Em Icaraí, além do velho Cinema Icaraí num prédio (hoje tombado) em estilo art-déco, havia dois outros cinemas, o Cine Casino e o Cinema Grill que funcionavam ambos no antigo prédio do Hotel Balneário Casino Icaraí que outrora (até 30 de abril de 1946) tinha sido um cassino de verdade e que foi fechado com a proibição do jogo no Brasil. Depois de 1964 foi desapropriado e passou a abrigar a reitoria da Universidade Federal Fluminense.


No Cinema Grill principalmente, passavam os filmes franceses da época. Foi lá que assisti aos bons filmes franceses da Nouvelle Vague. De Agnès Varda, "Cleo de 5 às 7"; "E Deus Criou a Mulher" de Jean Luc Godard com Brigitte Bardot, o símbolo sexual da época que veio mais tarde a ser sua mulher; do mesmo Godard, "Pierrot le Fou" com Jean Paul Belmondo.

De Caude Lelouch o clássico "Um Homem e uma Mulher" com Jean Louis Trintignan e Anouk Aimée. "Jules e Jim", de François Truffaut; "Les Cousins" de Claude Chabrol; "Z" de Costa Gravas com o grande ator Ives Montand, marido da excelente atriz Simone Signoret;

O misterioso "Alphaville", "Ascensor para o Cadalfalso" e Hiroshima Mon Amour" além de "Ano Passado em Mariembad", todos clássicos de Alain Resnais. Não menos importante foi "Les Parapluies de Cherbourg", de Jacques Demy com a belíssima trilha sonora do mestre Michel Legrand. Todos esses eram "filmes-cabeça" e davam ensejo a altas discussões e debates entre nós nas mesas do restaurante e piano-bar Le Petit Paris (que ficava quase ao lado do Cinema Icaraí, em frente a pracinha) ouvindo, ao vivo, Sergio Mendes e Tião Netto. Esses filmes ditavam moda e comportamento, à despeito do cinema americano que vinha como um rolo compressor trazendo a cultura do "american way of life".
Essa cultura americana chegou com tudo: Um garotão americano ingênuo chamado Elvis Presley com "Blue Suede Shoes",



Bill Haley and his Comets embalados pelo sucesso do filme "Blackboard Jungle" aqui chamado de "Sementes da Violência" cantando "Rock around the Clock",





Little Richard com seu piano fantástico e sua "Long tall Sally", e o glamour misterioso do introspectivo James Dean morto prematuramente ao volante de seu Porche, o que só fez aumentar seu carisma e os lucros das bilheterias de seus filmes. Mas a cultura francesa ainda era forte e certamente mais interessante e com mais conteúdo e demorou a render-se à americana que vinha empurrada pelo marketing da produção em massa. Ainda assim, ouvimos e cantamos algumas músicas cantadas por Jane Birkin (também uma excelente e linda atriz), Françoise Hardy, Sylvie Vartan e Johnny Hallyday.
Embora nem fosse nascida na época, só vindo ao mundo em 1972, vejamos a linda atriz francesa Vanessa Paradis (hoje mulher do jovem ator americano Johnny Depp) cantar "L'eau à la Bouche" de Serge Gainsbourg:




A letra da música é:
Ecoute ma voix écoute ma prière
Ecoute mon cœur qui bat laisse-toi faire
Je t'en pris ne sois pas farouche
Quand me viens l'eau à la bouche

Je te veux confiante je te sens captive
Je te veux docile je te sens craintive
Je t'en prie ne sois pas farouche
Quand me viens l'eau à la bouche

Laisse toi au gré du courant
Porter dans le lit du torrent
Et dans le mien
Si tu veux bien
Quittons la rive
Partons à la dérive
Je te prendrais doucement et sans contrainte
De quoi as-tu peur allons n'aie nulle crainte

Je t'en prie ne sois pas farouche
Quand me viens l'eau à la bouche

Cette nuit près de moi tu viendras t'étendre
Oui je serai calme je saurai t'attendre
Et pour que tu ne t'effarouches
Vois je ne prend que ta bouche



Naquele tempo ainda andávamos de bonde ou de trolley-bus.


Um comentário:

Anônimo disse...

"Entre os anos 50 e 60, embora já estivéssemos sendo maciçamente invadidos pela cultura norte americana... "

eu penso que essa cultura americana barata do pós guerra ajudou acabar com a beleza do Rio Antigo, Niterói e do Brasil tb.
Cidades cresceram sem infra estrutura nenhuma e o tranporte piorou.O Brasil seguiu o exemplo dos EUA, deu prioridade a indústria automobilística e esqueceu os bondes,trens e o metrô.
Arranha-céus foram erguidos e com isso muitos edifícios antigos foram demolidos em vez de serem preservados.
As grandes cidades incharam, pessoas vieram de outras regiões sem ter onde ficar, morar e trabalhar. Com toda esta "zona", a favelização começou e está até os dias de hoje, claro que com o apoio do governo que lucra com isso.

enfim, essa história é longa e para isso tudo melhorar ainda vai levar uns 100 anos. enquanto existirem as favelas juntamente com as grandes diferênças sociais, nada vai mudar !

um grande abraço para vc caloga !
Roberto