domingo, 9 de dezembro de 2007

26. Rocks rurais.


Foi quando morávamos na casa das Charitas que começamos a acampar com mais freqüência. Descobrimos um lugar que hoje não mais permite que nele se acampe, no alto das Agulhas Negras mais perto daqui de Resende onde hoje moramos. Íamos de Niterói com os amigos, depois de muitos preparativos e reuniões onde se decidia o que íamos levar, e juntávamos nossas muitas barracas que formavam num grande circo e era bonito de se ver.



Demandava uma certa engenharia para armar as barracas todas de um certo modo. Nossa vontade de acampar era tão grande que em todos os feriadões, desses que juntavam a quinta-feira da semana anterior com a terça-feira da semana seguinte deixando enforcadas a sexta-feira da semana anterior e a segunda-feira da seguinte subíamos a serra da Mantiqueira indo pela Dutra e saindo dela no entroncamento para Engenheiro Passos indo em direção a Itamonte, por uma belíssima estrada bem desenhada, com as curvas compensadas, que tinha sido projetada pelo pai de João Sampaio (nosso amigo de juventude e arquiteto que foi prefeito de Niterói). Numa localidade chamada Registro, deixávamos essa estrada e entrávamos à direita por uma estradinha que ia serpenteando e subindo 8 km em direção às Agulhas Negras. Lá em cima num local conhecido por Brejo da Lapa tínhamos o "nosso lugar".


Os acampamentos eram ótimos. Muito frio. Geadas às vezes no inverno e gêlo sobre a água do brejo. Fogueiras à noite, todo mundo tomanho banho nú juntos, e fazendo cocô no mato. Algumas vezes fechávamos as barracas e descíamos a estradinha indo até a cidadezinha de Itamonte. Uma das vezes que fomos lá, nossas filhas e a Luluca que era uma das amigas delas e que foi acampar conosco, entraram num concurso de dança de adolescentes numa matinê na "Boite Barrica Som" e arrebataram todos os prêmios e devem ter mexido com os corações dos jovens locais. Em outra ocasião, também em Itamonte, fomos durante um carnaval assistir ao desfile das pobres escolas de samba locais. O samba-enredo de uma delas, cujo nome não me lembro, exaltava as belezas locais e dizia: "Itamonte, seu nome já diz/Nasceu entre os montes/ Seu povo é feliz".



Voltávamos para nosso acampamento de madrugada e ele estava lá, intacto, no ermo do Brejo da Lapa, iluminado pela luz de uma lua que parecia um enorme queijo de minas. Depois de termos ido dezenas de vezes acampar no Brejo da Lapa, decidimos explorar outros locais e fomos pela primeira vez a Visconde de Mauá. Naquele tempo (entre 1975 e 1980) lá não havia senão algumas pouquíssimas pousadas. Acampamos onde anos mais tarde foi construído e está lá até hoje (2007) o Hotel do Amaro. Chovia torrencialmente às tardes e às noites. Ficávamos nas barracas tocando violão e cantando, e pelas manhãs saíamos para explorar o local. Tudo era bonito e divertido. O rio Preto era limpíssimo e nos proporcionou muitos banhos nos quais deixávamo-nos levar pela sua correnteza. Desde aquela primeira vez, fiquei apaixonado pelas belezas de Visconde de Mauá e disse que um dia ainda iria morar lá. Animei meu cunhado Paulo Ramagem a conhecer aquele lugar e ele foi se hospedar com a Luiza e os filhos (acho que três naquele tempo) no hotel Chalés Planalto que hoje tem outro nome. Ele também se apaixonou pelo lugar e acabou comprando um grande sítio onde construiu uma casa.

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