sexta-feira, 23 de novembro de 2007

7. O Liceu



A adolescência foi - como costuma acontecer com todo mundo - marcada por grandes mudanças. A principal delas foi meu ingresso através do que se chamava de "exame de admissão" ao primeiro ano do curso ginasial do Liceu Nilo Peçanha, que era o melhor colégio de Niterói. Era um grande colégio público que tinha tido alguma ligação com o Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, (até o seu uniforme se parecia com o daquele colégio) calças caqui com uma faixa lateral azul que ia da cintura à bainha, camisa branca, gravata preta e um dolmã em estilo militar com quadro bolsos fechados por botões de massa hemisféricos pretos. Nas golas havia uns ramos de folhas bordadas. Os sapatos eram pretos e eu usava umas botinas, que segundo minha mãe eram mais resistentes. O uniforme era rigorosamente verificado pelas inspetoras (havia uma inspetora para cada duas turmas). Eram funcionárias que tomavam conta de cadernetas de frequência, auxiliavam na vigilância à disciplina e à "cola" durante as provas. Lembro-me perfeitamente de duas inspetoras que minhas turmas tiveram: Dona Glorinha e Dona Mariá. O chefe delas era o temido "chefe de disciplina", "seu" Helvécio, sempre cheirando a bebida. Naquele tempo a educação secundária tinha dois ciclos: o primeiro, chamado "ginasial" com 4 anos, e o segundo de mais 3 anos com duas opções, o "clássico" e o científico". No ginasial tínhamos aulas de português, matemática, história do Brasil, história geral, geografia, ciências, francês, inglês, espanhol, latim, desenho, trabalhos manuais e canto orfeônico. No científico o curso modificava-se com um aprofundamento em matérias como matemática, física, química, biologia e as línguas. Este curso era preferido pelos alunos que desejavam seguir carreiras de engenharia, arquitetura, medicina ou entrar para as forças armadas. Já no curso clássico, a ênfase eram as línguas, entre elas um aprofundamento no latim e uma iniciação ao grego, e era para aqueles que desejavam ser advogados e professores.
No Liceu tive professores ótimos e péssimos além de ótimos colegas. Lembro-me de alguns professores do ginasial Professores: professor Cousin de história; Dona Esmeralda, professora de geografia; Dona Neusa - uma linda professorinha de português; professor Wezer, de história; professor Humberto Bittencourt Silva, de ciências; Dona Milita, péssima professora de matemática que me levou à 2ª época e depois me reprovou; professor Mendel Koifmann que desenhava no quadro negro um círculo perfeito a mão livre no qual também a mão livre, e a olho, colocava uma cruz no centro que tanto o círculo quanto o centro, podiam ser conferidos com o compasso, que eram perfeitos; professor José Nelino de Almeida, de português que achávamos que era gay (palavra que não existia naquela época); professor Tasso Chaves de Moura, de física com seus automóveis incríveis; Dona Iná de Carvalho Borges de trabalhos manuais, casada com "seu" Borges que foi o chefe de disciplina substituto de "seu" Helvécio; Dona Maria José, professora de francês; Dona Morgadinha, professora de história; Dona Malka, também de história que era uma balzaquiana bonita que ia à praia com a irmã mais velha em frente à rua Otávio Carneiro. O professor de latim era o padre Carneiro, um chato que falava como se tivesse um ovo dentro da boca e que também me levou à 2ª época. Um dia o padre Carneiro morreu. Foi a maior felicidade para todos os alunos que detestavam as suas aulas. As aulas foram suspensas e fomos ao seu enterro jubilosos. Havia também os professores que eram o terror dos alunos. Um dos mais temidos era o professor de matemática Benjamim Carias de Oliveira. Colegas me lembro também de alguns: Entre os rapazes, o José Carlos Teixeira, o Alcides Mitidieri, o Célio Thomaz de Aquino e seu irmão Hélio, José Ribamar de Faria Matos (Zequinha), o Raul Imbassahy e seu Irmão Luiz Ernesto, O Castanheira, o Alvinho e o Aluisio (que tocavam tarol na bateria da escola nos desfiles de 7 de setembro). Entre as meninas, a Vânia, a Ivânia, a Maria Lúcia Natalino Guanabarino, a Ceres que morava num edifício em frente à pedra da Itapuca, a Dalva Estrela, a ruiva Déa Villasboas. Durante o recreio tinha um serviço de alto-falantes que tocava um programa feito por alunos mais velhos, chamado "A Hora do Recreio". Dava algumas notícias e tocava músicas. Me lembro de ouvir Billy Ekstine cantando "I apologize". No recreio as meninas jogavam volei numa quadra cimentada e quando a bola ia para fora era apanhada pelos meninos que começavam a chutá-la selvagemente e algumas vezes a isolavam para fora dos muros da escola. Um dos alunos mais afeitos a este "esporte" era o Landri "Cabeção". Enquanto as meninas jogavam volei, os meninos ou jogavam futebol numa quadra grande que ficava atrás da Assembléia Legislativa (prédio vizinho ao Liceu) ou então numa quadra menor e mais afastada que ficava ao lado do Necrotério. Quando havia algum morto importante, nós subíamos no muro que separava o colégio do Necrotério para ver as autópsias. Gostávamos também de ver os cadáveres nús das mulheres. Entre esta pequena quadra e a maior onde se jogava futebol, havia uma mangueira gigantesca. Em baixo dela reunia-se uma turma para fumar escondido. Jogávamos também um jogo que foi o precurssor do atual volei de praia e que chamávamos de "dupla".

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