segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

domingo, 30 de dezembro de 2007

42 Das margens do Rio Preto para as do Paraíba


No dia 19 de setembro de 2005 alugamos um pequeno apartamento em Resende (cabe dentro de nossa sala da casa de Mauá). No dia seguinte tínhamos telefone instalado, coisa que não conseguimos em 13 anos de Visconde de Mauá, e dois dias depois tínhamos conexão com a Internet por banda larga. Parecia que estávamos em Tokio. Montamos um escritório nesse apartamento. Trouxemos apenas duas camas de solteiro e uma mesa e duas cadeiras que tínhamos em Mauá, uma grande prancha para servir de mesa, dois cavaletes para apoiá-la e uma prateleira. Compramos um frigobar usado e um fogãozinho de duas bocas para fazer nossos cafés e às vezes um miojo, quando a fome chega em horas impróprias. Para completar a mobília de nosso apartamento/escritório, compramos um sofá-cama para a sala para que possamos receber alguém que venha eventualmente pernoitar, e um pequeno guarda-roupa. O apartamento é mínimo e espartano. Percebemos que à essa altura da vida não precisamos de mais do que isso. Não cozinhamos em casa. Percebemos que é mais fácil, rápido e sobretudo mais prático e barato, comer fora. Pertinho de casa tem um restaurante de comida caseira no qual almoçamos desde que chegamos aqui, e pagamos por mês. Acabamos nos tornando amigos dos donos, a Ana Paula e o João Pedro que são ótimas pessoas. Por indicação de meu irmão Sergio - olha ele aí mais uma vez me dando uma força como tradutor - conseguimos um contato com a Editora Record (uma multinacional do ramo) e na mesma hora um trabalho. Compramos um computador decente para a Anna e de lá para cá não paramos mais de trabalhar. Aqui em Resende, nestes 27 meses desde que estamos aqui, temos sido muito felizes. Temos aqui nossa filha Adriana, seu marido Beto e nossa netinha Julia, que tem alegrado nossas vidas.

41 O Lance que mudou a nossa vida

Novos Rumos . . .

O primeiro trabalho de tradução que fizemos, Anna e eu, foi uma peça de autoria de Lance Sherman Belville - dramaturgo americano com extenso currículo e muitos prêmios em seu país, chamada no original de "Pope Joan", que traduzimos para A Papisa Joana. A peça, para dois personagens, é muito boa e fala sobre o mito de uma mulher (disfarçada de homem) que teria se tornado Papa entre os anos 855 e 857. O relacionamento com o autor deu-se a partir de uma indicação do Jorge Sávio. Escrevemos um e-mail para o Lance Belville nos candidatando a traduzir sua peça. Ele nos enviou dez páginas - a título de teste - que traduzimos e mandamos de volta. Fomos aprovados! Combinamos honorários e prazos e ele nos mandou uma minuta de contrato para que assinássemos e depois nos mandou o resto do texto. Foi um trabalho que curtimos muito fazer. Discutíamos muito até chegar a um acordo sobre as dúvidas e no fim, emocionados, choramos os dois com o desfecho da peça. Toda a tradução foi feita com o auxílio de um dicionário escolar que o meu irmão Augusto nos deu e conosco ainda morando em Mauá e nos comunicando com o Lance pela Internet, tendo que ir de nossa casa à Vila de Visconde de Mauá (12 km ida e volta) e às vezes encontrar a Lanhouse fechada e ter que voltar para casa sem poder nos comunicar com o Lance para esclarecer eventuais dúvidas. O tradução ficou muito boa - sem falsa modéstia - e o Lance acabou vindo para o Rio de Janeiro aonde houve uma leitura dramatizada feita pelos atores Armando Babaioff (que fazia o Padre) e Márcia Valéria (que fazia a Papisa Joana), aberta ao público numa sala do SESC Copacabana, seguida de um debate com o público, na qual o autor, o elenco e nós tradutores discutimos com o público sobre o que tinha sido a experiência de ter traduzido a peça. A partir daquele trabalho, fizemos mais uma tradução para o Lance, desta vez de uma peça infantil sobre um indiozinho brasileiro. Nessa peça, tem um personagem, o Papagaio Azureco, nome que demos ao personagem, que só fala em versos, e aí a Anna demonstrou todo o seu talento de poeta. Nosso amigo Jorge Sávio em seguida nos deu um livro para traduzir, sobre física para não-físicos. Tinha dado certo a mudança de rumo a que me propuz. O negócio de tradução estava indo de vento em pôpa para nós. Precisávamos apenas de uma infra-estrutura melhor do que a que tínhamos em Mauá, que para falar a verdade era quase nenhuma. Sem telefone, sem Internet, ou com uma Internet que nem sempre estava disponível e a 12 km, com dois computadores sendo que um deles era um verdadeiro Frankenstein, comprado usado, feito de sucata de vários outros computadores. Precisávamos de um lugar decente para trabalhar se queríamos levar a sério e adiante nossa nova atividade.

40 Visconde de Mauá 15 anos depois (6)

Mudando a rota . . .
Com o trabalho escasseando cada vez mais, a vida foi ficando difícil. O parco salário de minha aposentadoria como professor da UFF não dava mais para nos manter com dignidade, mesmo em Visconde de Mauá, onde se consegue suprir com um mínimo as necessidades de sobrevivência. Eram cada vez mais raras as solicitações de trabalho que eu recebia. Aí me lembrei de explorar uma de minhas possibilidades de trabalho que estava adormecida há décadas, a de tradutor. Afinal eu tinha estudado a língua de nossos irmãos do norte na Cultura Inglesa por alguns anos, no Centro Cultural Brasil Estados-Unidos outros tantos anos, além de ter (quando adolescente no tempo em que, logo depois da guerra, os americanos estavam dando a volta ao mundo em seus poderosos navios de guerra fazendo o que chamavam de política de boa vizinhança) ido algumas vezes à praça Mauá no Rio de Janeiro, reunido uma meia dúzia de marinheiros americanos com aquelas calças boca-de-sino, e os levava para o pão-de-açucar, o corcovado, e para comprar "brazilian gems" na H. Stern - a atendente já me conhecia e até me deu uma vez uma água marinha à título de comissão - e para os puteiros do mangue. Eu ganhava alguns caraminguás, mas na verdade ganhava o traquejo do falar inglês, evidentemente que era o inglês de marinheiros, mas mesmo assim foi muito útil mais tarde. Ainda adolescente eu ia ao cinema e afundava na cadeira de tal modo que o assento da cadeira da frente obstruísse a visão das legendas, de modo que eu ficasse apenas escutando o que era dito pelos artistas. As letras das músicas cantadas por grandes cantores de ótima dicção como Nat King Kole, Frank Sinatra, Tony Bennett e outros, tudo isso junto acabou sendo muito valioso quando anos depois fui, com minha mulher e filhas, morar em Chicago durante a bolsa de estudos que ganhei para o curso de mestrado no Institute of Design. Ora, pensei, se quando eu era ainda um garoto - e meu conhecimento de inglês era muito menor do que é hoje - e o meu irmão Sergio, que havia recém entrado para a carreira diplomática, me arranjou um 'bico' para traduzir muitas publicações do Itamarati que se chamavam 'Guias de Informações sobre Postos' e destinavam-se a orientar os diplomatas que eram mandados para as embaixadas brasileiras pelo mundo, porque não usar meu conhecimento da língua bretã, agora aumentado, e procurar uma nova atividade para melhorar o "caixa"? Dito e feito. Fui para a Vila de Visconde de Mauá, em frente ao posto do correio, que era o único lugar onde o celular pegava e liguei para meu velho amigo e editor Jorge Sávio. Sua editora não trabalhava com títulos estrangeiros, mas ele me disse: "anota aí um endereço que vou lhe dar" e passou-me um endereço eletrônico do dramaturgo americano Lance Sherman Belville que tínha morado no Brasil no tempo da ditadura trabalhando como correspondente para cadeias americanas de jornais e que desejava que uma de sua peças fosse traduzida para o português pois ele queria montá-la no Brasil, para onde viria em breve. Devemos a nosso querido amigo Jorge Nogueira Sávio a mudança radical em nossas vidas!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

39 Dolino mais uma vez

Mais uma vez Dolino me dá a oportunidade de fazer outros trabalhos interessantes. O primeiro foi o catálogo para a exposição de um pintor polonês seu amigo que estava passando uma temporada no Rio de Janeiro e mostraria seus quadros sobre a cidade. Confesso que não gostei de suas telas (todas de grandes dimensões) mas o trabalho foi interessante e mais uma vez me ajudou a comprar o leitinho das crianças. O segundo trabalho foi a capa do disco "Bodas de Vidro" da cantora Marília Medalha.

Fui assistir à gravação num estúdio do Roberto Menescal, na Barra e fazer as fotografias que iriam ser usadas no projeto. Este trabalho foi mais interessante e fiquei conhecendo o Menescal e os outros músicos.


38 Visconde de Mauá 15 anos depois (5)

O Plano era outro...
Meu amigo o pintor Luiz Geraldo do Nascimento, o "Dolino" colocou-me em contato com o célebre e veterano ator Sergio Britto para que eu fizesse o projeto e a edição de imagens de seu livro de memórias "40 Anos de Teatro", que contava a sua vida e a sua carreira. Esse trabalho acabou me rendendo um bom dinheiro com o qual comprei uma terra (1,2 ha =12.000 m2) vizinha de cerca com a terra de minha cunhada Luiza e meu cunhado Paulo Ramagem, onde faríamos, como de fato fizemos, a nossa casa (que agora queremos vender). A outra cunhada, a Cristina e o outro concunhado Gustavo seu marido, compraram do Paulo uma parte da terra dele que ficava junto à nossa. Dessa forma, o plano era ficarmos todos juntos, a família, cada qual com sua casa, numa grande área de terra. O Paulo teve uma morte prematura e inesperada causada por um enfarte, o que deixou a Luiza naturalmente triste por muito tempo. A Cristina desfez a compra da terra e a Luiza compreensivelmente não quis mais morar em sua casa no sítio. Nós já tínhamos contratado os serviços da arquiteta Suely Ferreira da Silva que tinha sido colaboradora do célebre arquiteto José Zanine Caldas até que este ficou muito doente e não pode mais trabalhar. Suely projetou uma bela casa para nosso sítio, a partir do estilo que desenvolveu enquanto trabalhava com Zanine. Naquele momento vendemos nossa casa de Niterói, venda esta que até o presente momento ainda não se concretizou pois o comprador nos deu um calote, deixando de pagar a última das três promissórias que assinou, o que nos fez levar a cobrança para a justiça. A velocidade da justiça é de impressionar pela lentidão. Trata-se apenas de cobrar uma promissória cujo vencimento era abril de 1998, e até hoje (dezembro de 2007) os meritíssimos não conseguiram ainda resolver essa questão. A venda da casa de Niterói é que daria o dinheiro suficiente para pagar a Suely, comprar o material e pagar a mão de obra da construção. Com as duas promissórias que o comprador resgatou, pagamos o projeto, compramos a maior parte do material e demos início à construção. Como não recebemos a última promissória, e a casa já estava quase pronta, faltando o telhado e aproximando-se a estação das chuvas em Mauá, não tive outra alternativa senão pedir ajuda a meus irmãos Sergio e Augusto que me emprestaram o dinheiro necessário para terminar a obra, até porque, tínhamos que ir logo para a nossa própria casa uma vez que estávamos sendo maldosamente despejados da casa em que morávamos de aluguel. Mudamo-nos para a nossa linda casa no dia em que acabou o Século XX e começou e Século XXI. A primeira noite que passamos em nossa casa foi inesquecível.
Mas o plano era outro. . .

37 Visconde de Mauá 15 anos depois (4)

A idéia era boa, mas. . .
Sou muito curioso. Não me basta simplesmente conhecer as coisas, os lugares e as pessoas. Gosto de saber as origens delas. Como a história de Mauá é muito recente (pouco mais de 200 anos) e eu tinha descoberto velhos documentos sobre a região, isso me provocou a desenvolver um trabalho de levantamento de dados sobre a etnografia daquele lugar. Junto com o meu amigo Zé Tavares, que constatei ser tão curioso e interessado quanto eu, e outras pessoas, fomos levantando dados aqui e ali, entrevistando os habitantes mais velhos e acabamos por organizar esse material e publicá-lo periodicamente em fascículos. A esta publicação demos o nome de "Revista Acervo da Memória da Região de Visconde de Mauá".

Entre outras, a idéia era que esses fascículos fossem (e foram) distribuídos nas escolinhas da região para que os professores desenvolvessem trabalhos com seus alunos sobre a região na qual eles moram. Conseguimos produzir três fascículos sucessivamente nos meses de julho, agosto e setembro de 1998. Após o sucesso do primeiro, outras pessoas se juntaram a nós e formou-se um grupo de interessados em levantar material para publicação. Teve quem não participou do grupo porque não quis mas achou que tinha sido impedido por aqueles que dele participavam e criou uma verdadeira quizumba, resultando em agressões físicas, verbais e telefônicas. Todo grupo tem, infelizmente, sempre um elemento desagregador. Moral da história: só conseguimos produzir 3 fascículos com o rico material que tínhamos em mãos. Ainda assim nos deu muita satisfação produzí-los, e a mim pessoalmente trouxe um conhecimento sobre o lugar e sua história, que era aquilo que eu queria no início.
Dos quase 15 anos que passamos em Mauá, tenho muitas histórias para contar e muitos personagens para apresentar. Com o tempo, eles acabarão surgindo aqui.

36 Visconde de Mauá 15 anos depois (3)

Conhecendo as Pessoas

Visconde de Mauá distribui os seus menos de 10.000 habitantes por três vilas principais: a Vila de Visconde de Mauá propriamente dita, a Vila de Maringá e a Vila da Maromba. A que nasceu primeiro foi a que dá nome a região. Lá foi estabelecida em finais do século XIX uma colônia agrícola (que não deu certo principalmente pela dificuldade de escoamento de sua produção em função da estrada precária). Nova tentativa de colonização foi feita nas primeiras décadas do século XX a partir de uma política nacional de atração de imigrantes europeus. Também malogrou pela mesma razão da tentativa anterior. Lá pelo anos 70 a região foi "descoberta" pelos drop-outs que queriam mais liberdade do que as metrópoles ofereciam. Além dessas três vilas, os vales menores (Cruzes, Pavão, Alcantilado e Santa Clara) também abrigam aqueles que decidiram se refugiar em suas cavas. A beleza é impar. A vegetação é exuberante, os rios e cachoeiras são de águas que já foram mais limpas mas que ainda dão para tomar bons banhos, a fauna é fantástica, e o clima é impar (no inverno chega a fazer temperaturas abaixo de 0). Neste meio ambiente fomos recebidos de forma muito carinhosa por quantos viemos a conhecer. Primeiramente na Vila de Visconde de Mauá fomos recebidos carinhosamente pela Bia, hoje Bornhausen, então Simonsen e ex-Llerena. Ela era proprietário de um correr de lojas ao qual chamava de "Shopping Aldeia dos Imigrantes". Dois de seus 5 filhos moravam em Mauá onde ela também morava numa velha casa típica mineira de fazenda, completamente restaurada. Esses dois filhos eram a Lia Llerena e o Marcus Llerena - exímio violonista concertista de fama internacional. Outra pessoa que também nos recebeu com carinho foi a Domitila Brecht - excelente cozinheira além de artista/fotógrafa talentosíssima. Tomara que eu não esqueça de ninguém, mas posso além desses, citar também o Lauro Born Caldeira de Andrade, o Sapo, a Rosani Bauer Ramos, a Marli e o Donald Hardiman e seus filhos, o pintor e músico Roberto Granja, o pousadista Marco Antonio Compagnoni e sua mulher a pintora Cassia Freitas, a fabricante do famoso Bolo Húngaro de Visconde de Mauá, a Precila Godinho. Algumas pessoas nos marcaram. Dentre elas, uma das mais representativas da "fauna" local é o meu querido amigo José Tavares Pereira Filho, o Zé Tavares, e Elsa Sanvicente, sua mulher. A partir da relação que desenvolvi com ele, pude conhecer e me tornar amigo de seus amigos, o arquiteto Rainer Jacobi, o artista tecelão/escultor Fernando Fleury e Zil - a Luzia - sua mulher, o criador de trutas Raymundo Alves e sua mulher a hoteleira Norma Buhler, descendente dos fundadores do hotel mais antigo (perto de 80 anos) da região. Esse quarteto era proprietário de uma grande construção conhecida como Galpão Maringá, espécie de Circo Voador de Mauá, que durante muitos anos foi o local de diversas manifestações da comunidade (artísticas/políticas/sociais e outras de difícil classificação). Com outras pessoas também pudemos desenvolver uma grande e afetuosa relação: Eliane Arieira, Marcelo Paes, a pintora Ana Plant e seu marido também pintor, o inglês Timothy Plant, Juan Llerena, o grande incentivador de atividades sociais/culturais e outras da comunidade do Lote 10 (bairro popular de Visconde de Mauá), o grande aventureiro Sergio Zurawel - que foi a Ushuaia de fusca, deu a volta ao Brasil em uma pequena Honda 125 e está vindo da Califórnia numa potente Kawasaki, além de muitos outros que citando esses fico com medo de estar fazendo alguma injustiça àqueles que deixei de citar (por esquecimento momentâneo).

Elsa: conforme conversamos, modifiquei o texto no ponto em que falo sobre o Zé Tavares. Espero que agora esteja de seu agrado.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

35 Visconde de Mauá 15 anos depois (2)

Conhecendo a Região

Visconde de Mauá é um microcosmo e como tal suas peculiaridades saltam logo aos olhos. Em primeiro lugar a beleza fantástica de sua topografia, fauna e flora. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe do Rio de Janeiro e de São Paulo. Tão protegida e tão abandonada na cava de seus vales. A chamada Região de Visconde de Mauá, fisicamente falando, está distribuída pelos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais e por três municípios dessas unidades da federação, Resende e Itatiaia do RJ, e Bocaina de Minas de MG. Esta característica tem sido desde sempre um fator de grande impedimento ao desenvolvimento da região, dado que só por uma conjunção planetária favorável (que não tem acontecido desde o big-bang) haveria o necessário alinhamento político das prefeituras que administram (?) os três municípios para o desenvolvimento integrado da região. A estrada que leva ao Paraíso da Mantiqueira é basicamente a mesma que foi aberta no início do século XX e que por deficiências de projeto e sobretudo de manutenção, além de sofrer com a temporada de chuvas que dura todo o verão e entra pela primavera, dificulta um turismo de qualidade que poderia trazer benefícios (e também malefícios) para a região. De qualquer modo, é graças às suas belezas naturais que fazem Visconde Mauá ser o "Paraíso da Mantiqueira". Aliás, foi com esse nome, que o explorador José Palmella batizou a localidade e a ela se referiu nas cartas que mandou à viscondessa de Araim da Côrte do Rio de Janeiro por volta de 1860. A viscondessa contratou os serviços desse explorador que lá esteve e descreveu as belezas da região em cartas enviadas a ela e que acabarão sendo postadas aqui neste blog. Aguarde.

34 Visconde de Mauá 15 anos depois (1)

Chegando para trabalhar

Estabelecendo-me em Visconde de Mauá, queria e precisava desenvolver uma atividade. Aluguei uma loja no "Shopping Aldeia dos Imigrantes" de minha amiga Bia Bornhausen (Simonsen na época) e nela montei um escritório de prestação de serviços gráficos. Imaginei que a pequena atividade econômica hoteleira da região seria um clientela a desenvolver. Para fazer uma simples cópia de documento era preciso tomar um ônibus, descer a serra da Mantiqueira, ir a Resende e ficar lá o dia todo esperando o ônibus de volta (só havia dois horários por dia - e muitas vezes o ônibus quebrava no meio da serra). Pensei que oferecer imediatamente um serviço de cópias me faria conhecido e me daria a oportunidade de mostrar outras possibilidades de meu trabalho. Aluguei uma máquina da Xerox, levei todo meu equipamento (computador, impressora a laser e scanner e comecei a trabalhar. Num instante tornei-me conhecido e confirmaram-se minhas expectativas. Meu computador era o primeiro que chegava a Visconde de Mauá no longínquo ano de 1995. Os habitantes locais ficavam com as caras grudadas na vidraça da loja me vendo trabalhar naquela máquina que só viam na televisão. Os hoteleiros e os pequenos comerciantes me solicitaram para os mais variados serviços, e assim que pude instalar um telefone no escritório decidi desenhar e colocar no ar um site que chamei de "Revista de Turismo Visconde de Mauá - O Paraíso da Mantiqueira", onde eu mostrava a região e suas belezas, oferecia diversos serviços e dava informações diárias sobre o tempo, temperatura, condições da estrada, etc. No início foi um pouco difícil (até porque não tenho habilidade para tanto) vender um espaço no site para os meus pretendidos anunciantes. A Internet mal tinha começado a ser usada como ferramenta de divulgação comercial. Muitos de meus clientes sequer sabiam o que era a Internet e qual o seu alcance, utilidade e potencial. Ainda assim cheguei a ter mais de 35 anunciantes fixos, entre hoteleiros e comerciantes. Mas como as mudanças ocorrem com muita velocidade, em poucos anos os computadores que tomavam conta do resto do mundo, também subiram a serra da Mantiqueira e todos passaram a tê-los e a partir daí acharam que não precisavam mais de mim. É claro que ter um bisturi na mão não faz de ninguém um cirurgião, mas. . . Acabei tendo que fechar o escritório porque a demanda caiu a um nível que não permitia que eu pagasse o aluguel e as contas de luz e telefone. Mas foi uma ótima experiência, sobretudo pela interação que me proporcionou - tanto comercial quanto pessoal - com os habitantes locais, desde os empresários da hotelaria até o dono da vendinha, ou os meninos que me pediram para fazer um cartaz para o tradicional campeonato de bola de gude que é realizado há anos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

... no llegará para todos.

Dois economistas nicaraguences conversavam e um deles dizia:
- Compañero, se la situación continua así, habremos de comer mierda.
Ao que o outro respondeu:
- No compañero, se la situación continua así, la mierda no llegará para todos.

Idosos abandonados pedindo esmolas na Piazza Duomo, em Milão, na Itália.
Foto: HÉLIO OLIVEIRA/FotoRepórter/AE


Foto recolhida hoje (20 de dezembro de 2007) do site do Estadão.
Até no chamado primeiro mundo, na belíssima Piazza Duomo, a poucos metros da galeria Vitorio Emanuele, uma das mais chiques e com as lojas mais caras do mundo, vemos com tristeza a que foram relegados os idosos. Do jeito que as coisas vão, os economistas nicaraguenses tinham razão.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

33. Sozinhos

No início dos anos 90 de repente ficamos nos dois, eu e a Anna, sozinhos. Priscilla já tinha batido asas e ganhado o mundo, começando pela Itália. Adriana foi para Resende acompanhar a avó que tinha sido internada no Hospital da Academia Militar das Agulhas Negras para sofrer uma cirurgia no calcanhar que havia fraturado. Lá Adriana conheceu o então jovem cabo Alberto Deslandes, o popular Beto com quem começou a namorar. Com a avó restabelecida ela resolveu ficar por Resende e foi morar com ele na enorme casa de meu concunhado Paulo que gentilmente (como era de seu feitio) os acolheu. Nesse meio tempo, minha cunhada Cristina resolveu abrir em Visconde de Mauá uma loja de chapéus de parceria com Fernando Scarpa. Pouco depois desfizeram a sociedade mas a Cristina decidiu ficar com o negócio sozinha e morando em Mauá após ter sofrido um assalto que deve ter lhe traumatizado muito, lá em Pendotiba onde moravam perto da nossa casa. Visconde de Mauá oferecia segurança entre outras coisas, algo que já estava faltando na cidade de Niterói. Indo morar em Mauá, a Cristina levou com ela a sua mãe. Então nós, e principalmente a Anna, que já havíamos perdido a companhia das filhas, ficamos sem a companhia da irmã/cunhada e da mãe/sogra. Como os trabalhos estivessem rareando, e minha obrigação para com a UFF se resumia a dois dias de aulas por semana, propuz a Anna que alugássemos nossa casa de Pendotiba e fôssemos também para Mauá. Fiquei indo durante um ano de Mauá para Niterói duas vezes por semana, dormindo na casa de meu irmão Augusto até que consegui negociar com meu chefe de departamento e ir apenas um dia por semana e dar naquele dia todas as aulas que dava nos outros dois. Entrava lá ao meio-dia e saia às 10 da noite, morto. Dormia na casa do Augusto e no dia seguinte partia para Mauá para só voltar na semana seguinte. Inicialmente fomos morar num ranchinho de costaneira (a parte das árvores que não é aproveitada para fazer tábuas, junto à casca) muito bucólico, num sítio enorme aonde em uma das casas (tinha 3) a Cristina e seu marido Gustavo já moravam com minha sogra. Levamos de Pendotiba para lá umas poucas coisas. Em pouco tempo mudamos para uma das outras casas do sítio, mais embaixo, justamente às margens do rio Preto - divisa entre os estados do Rio e de Minas. Pouco depois (1995) consegui me aposentar pela UFF.

32. Enfurnado no computador

Naquele tempo (1988) toda essa coisa da computação pessoal, do PC era absolutamente inédita. Me lembro de ter ido lá em casa gente que eu nem conhecia para ver o meu recém comprado 286. Devia ser um dos primeiros da espécie, pois até então só havia os chamados XT que eram muito precários. Aliás, recebi o meu 286 do contrabandista no meio da rua Belfort Roxo em Copacabana. Ele abriu a mala de seu carro e eu a do meu e rapidamente tiramos as caixas do carro dele e passamos para o meu. Era como se estivéssemos transportando cocaína e trocando de carros para despistar a polícia. Fui voando para casa doido para ligar tudo e, tal qual uma criança que acaba de ganhar um trem elétrico (acho que hoje em dia as crianças não ganham mais trens elétricos, e sim videogames, ou talvez nem isso, mas sim algum outro invento tecnológico) ver aquilo funcionando. E foi o que fiz. Só que eu ainda não sabia, mas ele vinha sem qualquer programa, e assim nada pude fazer, embora realmente não soubesse, fazer nada. Rapidamente consegui os programas que o fariam funcionar e dois dias depois estava experimentando as primeiras possibilidades. Fiquei absolutamente fascinado. Abria-se um mundo novo que ainda permanece aberto até hoje e alargando-se cada vez mais. Mas eu tinha que ganhar a vida pois a indenização da White Martins, embora boa, estava acabando. Fui conseguindo um trabalho aqui, outro ali e assim me mantendo e mantendo a vida. Um de meus clientes mais assíduos foi o saudoso e velho amigo Arino de Mattos Filho para quem eu já havia trabalhado no tempo da prancheta. Arino, entre outros talentos, era poeta e trocava suas poesias com intelectuais, como ele, pelo mundo (gente como Garcia Marques e alguns poetas galegos). Encorajei-o a editar suas poesias e a manda-las para seus amigos em forma de livros feitos artesanalmente por mim. Comprei uma impressora a laser, também de contrabando, que custou outra fortuna (US$ 1.800) e produzi uns 10 livrinhos artesanais primorosamente impressos e acabados, todos eles com uma tiragem reduzida (30 a 50 exemplares) que ele trocava com seus pares. Eu usava basicamente um software que nem existe mais chamado Ventura Publisher, além da primeira versão do Corel Draw, que era a 1.0. Além de outros trabalhos que fiz com aquele velho 286, esses livrinhos do Arino me propiciaram dinheiro suficiente para ir com a Anna à Europa, visitar nossa filha que já estava há alguns anos trabalhando em Bérgamo, na Itália.

Naturalmente este novo recurso tecnológico fez com que eu mudasse o conteúdo e a forma de minhas aulas no Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF e naquele longínquo ano de 1989 levava meu computador para lá e mostrava para meus alunos o que era aquela ferramenta com a qual iriam trabalhar num futuro que já batia à suas portas. A UFF, como sempre carente de recursos, só conseguiu implantar um "laboratório" de informática no IACS alguns anos mais tarde, depois de eu ter mostrado a sua importância. O tal "laboratório" era composto de apenas 5 computadores que viviam enguiçando e voltavam à funcionar graças à habilidade e aos gatilhos do Clay, que era o funcionário encarregado da manutenção dos equipamentos do IACS de toda a natureza. A sala do tal "laboratório" tinha goteiras e algumas vezes chovia em cima dos equipamentos, danificando-os. Muitas vezes levei os alunos para o meu próprio estúdio, em minha casa em Pendotiba e dava minhas aulas lá, pois os computadores do IACS estavam enguiçados.
A minha relação com os computadores pessoais começou naquele 1988 e até hoje permaneço enfurnado nesta máquina que me permite ganhar o pão de cada dia e o leitinho das crianças.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

31. O primeiro computador a gente nunca esquece

Antes de sair da White Martins, vinha lendo sobre algo de novo que surgia - os microcomputadores, que eram como se chamavam os PCs naquela época - e suas aplicações nas chamadas artes gráficas. Conversando com meu velho amigo Jorge Nogueira Sávio, ele me falou também com entusiasmo sobre o assunto e me indicou um designer que prestava serviços para ele e que estava usando um microcomputador para realizar seus projetos. Fui visitá-lo e fiquei maravilhado com o que vi. A velha prancheta tinha se reduzido a uma pequena tela de 14 polegadas e não havia mais a necessidade daquela infinidade de instrumentos, tintas, guaches, nanquim, réguas, esquadros etc. Era quase ficção científica. Perguntei como se conseguia comprar aquela máquina e como se aprendia a usá-la. Comprar, só de contrabando, me disse. E para aprender a usar eu teria que comprar livros que ensinavam a trabalhar com os programas (dos quais ele me daria cópias). Da polpuda indenização que recebi da White Martins, destinei (imaginem só!) US$ 4,000 que foi quanto na época paguei a um contrabandista por um computador PC 286, com 1Mb de RAM, um HD de 40 Mb, um monitor colorido super VGA, um mouse e um scanner de mão (todo esse equipamento era um assombro na época).


Sem saber sequer como colocar aquela engenhoca para funcionar, lancei-me a fuçá-lo até alta madrugada para decifrar suas possibilidades. Fiz várias besteiras das quais me salvaram meus amigos Ovídio Velasco de Oliveira (na época trabalhando na Embratel) e Ricardo Leão, ex-colega do SERPRO. Não existia ainda o Windows, e todos os comandos tinham que ser dados através de códigos meio ininteligíveis e misteriosos do DOS. Mas eu tinha decidido que dali por diante minha vida profissional iria se basear nas possibilidades daquela tecnologia. O primeiro trabalho que me propuz a fazer, na primeira semana de posse do microcomputador, foi o projeto, diagramação, composição e arte-finalização de um livro sobre a influência da TV Globo na campanha e eleição do presidente Fernando Collor de Mello, livro esse de autoria daquele mesmo Francisco Paulo de Melo Neto que tinha me levado para a White Martins. Daí pra frente não parei mais. Fui aprendendo a lidar com a informática, seus programas e possibilidades e arranjando clientes. Trabalhei até para a IBM.

30. A White Martins

Minha notória insatisfação e impaciência com os empregos que tive me levou a mais uma tentativa de vôo solo. Depois do fracasso de nossa pequena indústria de confecção de roupas, quando já morávamos numa belíssima casa que alugamos na rua Equador 33, em Pendotiba, após alguns meses de tentativas e uma certa espera angustiante por uma possibilidade de trabalho, esta veio, através de um ex-colega dos tempos de SERPRO, o Francisco Paulo de Melo Neto e que naquele momento estava trabalhando na White Martins, uma poderosa multinacional de industrialização de gases. Entrei lá em 1986 para ser supervisor de uma equipe de designers encarregados de cuidar da imagem da empresa, que tinha 235 filiais por todo o Brasil. Para minha grande satisfação encontrei uma velha colega da ESDI, a Angela Lemos Basto, designer competente e mulher muito inteligente. Nós dois chegávamos sempre antes do início do expediente e na minha sala líamos juntos e comentávamos as notícias do Jornal do Brasil e recordávamos pessoas e fatos de épocas passadas de nossas vidas.

Aí estão, Petershon, Vinício, Angela, eu, Edson, Eduardo e Ivan

O gerente de nosso departamento, ao qual eu e minha pequena equipe estava subordinada era o Moacyr Gomes Pereira, um ex-padre gaúcho que nos administrava como se fôssemos noviços num seminário. O departamento sob sua gerência tinha duas supervisões, uma das quais era a minha e a outra foi ocupada por um anglo/brasileiro, já falecido, chamado Jeremy Hughes, vulgo Jerry. Por razões que não vêm ao caso, o Moacyr saiu da empresa, e a estrutura modificou-se adquirindo um status mais elevado e para comandar aquilo que agora passava a ser o que a White chamava de Área de Comunicação Social, veio um advogado do nordeste chamado Ivan Nahon. O Jerry achou naturalmente que seria indicado para a sucessão do Moacyr, e começou a desenvolver um trabalho de bastidores para que isso acontecesse. Qual não foi a sua surpresa, e mais ainda a minha, quando o indicado para ser o gerente do departamento fui eu. Aquilo significava prestígio, um salário bastante melhor do que o de supervisor e sobretudo mais responsabilidade. O Jerry ficou frustradíssimo, coitado, e passou a fazer uma oposição descabida a mim e prejudicial ao trabalho. Se antes a minha equipe era de uma meia dúzia de pessoas, agora era de algumas dezenas. Eu disse que só aceitaria o cargo de gerente se fossem atendidas duas exigências: 1) que a Angela viesse a ser promovida a supervisora na vaga que eu deixava e 2) que o Jerry fosse transferido para algum outro lugar, pois eu não o queria no meu departamento (acho que ele foi sumariamente demitido).
Reuni os melhores de meu departamento, entre eles a Angela Lemos Basto e o Jorge Tadeu Borges Leal, e propus uma espécie de seminário onde discutimos por vários dias o departamento na Área à qual estava subordinado, suas atribuições e objetivos, sua composição e juntos constatamos que não apenas ele, mas toda a Área precisava ser enxugada e redimensionada para que pudesse funcionar com a eficiência necessária. Levamos nossas conclusões ao gerente da Área que aprovou nossa proposta. Afinal, éramos profissionais de comunicação e não burocratas, e ele, embora advogado, percebeu do que sua equipe era capaz. Sabíamos o que estávamos propondo. Assim, de uma forma horrorosa, da noite para o dia, às vésperas das festas de fim de ano, tive a missão de demitir dezenas de pessoas. Aquilo mexeu profundamente com minhas entranhas e me fez conhecer um pouco da insensibilidade - que naquele momento tive que representar - daquela companhia gigantesca que tinha perto de 10.000 empregados. Por outro lado mantivemos algumas poucas pessoas entre elas a Giselda (que também tinha sido minha colega no SERPRO) e contratamos outras, entre elas as competentes Cristina Miranda e a Mazé - esta última acho que está lá até hoje - e o Fernando Maranhão. Todas essas pessoas eram profissionais muito competentes e a elas cabe todo o crédito pela trabalho que o departamento que eu gerenciava foi capaz de realizar.
De qualquer modo, consegui ficar na White três anos, com uma equipe de pessoas maravilhosas, até que, outra face horrorosa dela se apresentou. Os executivos - burocratas sem conhecimento específico do assunto que se propõe e gerenciar, estão em constante atividade predatória e fazem de tudo para tomar o lugar daqueles que conseguiram desenvolver um bom trabalho e de algum modo se destacaram. Desse modo, fui substituído sem uma explicação sequer, por um jovem ambicioso (e que algumas vezes se fez passar por meu amigo), com um padrinho mais ambicioso ainda, que por sua vez veio a substituir o Ivan Nahon. Eu fui transferido para um lugar longe da matriz, aonde estava, e fui colocado numa sala sozinho, sem ter o que fazer (acho que o Ivan foi demitido). Imagino que isso era uma estratégia para que eu acabasse pedindo demissão. Mas o que eu fiz foi ir ao novo gerente da Área e disse que aquilo era um desrespeito e que eu é quem estava demitindo a companhia naquele momento; que ele me indenizasse pelos anos que lá fiquei e pelo trabalho de reformulação que eu e minha equipe fizemos na Área que ele agora dirigia, e que funcionava com eficiência, pois isso era o mínimo que eu merecia. Peguei a indenização que me coube, e que não era pouca, minhas coisas e fui embora.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Álbum de família 3. Filhas e Genros

Adriana e Priscilla

Adriana

Priscilla

Adriana e Beto

Priscilla e Ricardo

Álbum de família 2. A grande família



Álbum de família 1. Progenitores meus e da Anna

Meus pais, Ary e Celuta

Dulce, minha sogra

João, meu sogro, com minha sobrinha Renata

Apaixonado há 51 anos

Também, com uma mulher como essa, que desde garota já era linda, quem não há de? Vejam só:
Minha namorada, Niterói (±1958)

Na manhã seguinte ao nosso casamento, Petrópolis (1963)

Num aniversário nosso, Charitas (±1982)

Num show no Canecão, Rio de Janeiro (±1983)

Em Bérgamo (1990)

Na casa da mãe de Françoise, Niterói (±1985)

Pendotiba (±1986)

Nosso aniversário em Pendotiba, Niterói (±1987)

Bérgamo 1990

Bérgamo, 2004

Bérgamo, 2004

Na casa da Rutinha e do Sérgio, em Angra, 22/01/08.

sábado, 15 de dezembro de 2007

29. Buscando novos caminhos.

O estúdio não ia bem. Pouco trabalho e dificuldades de colocarmo-nos empresarialmente. Aliás esta foi sempre uma dificuldade minha. Nunca soube ser o empresário de mim mesmo. Não tenho jeito para negócios. Melhor seria ter tido um sócio com este espírito. Mas o meu (assim como eu próprio) não era assim. Despesas que não acabavam mais: aluguel, contador, salários, impostos, ufa! E neca de trabalho que sustentasse tudo isso. Achei melhor dissolver a sociedade para que cada um de nós procurasse o seu caminho sem necessariamente levar o outro no vácuo. Assim foi feito. Pagamos todas as contas e fechamos as portas. Em virtude de ter trabalhado para a indústria e o comércio da moda, e de ter visto que aquele ramo parecia promissor, conversei com a Anna, minha mulher, e resolvemos abrir uma pequena indústria de confecções. Ela topou e assim nasceu nossa primeira aventura profissional juntos, a confecção EFEITOS ESPECIAIS. Não me lembro como conseguimos capital para comprar as máquinas que eram muito caras, mas compramos. Instalamo-nos no edifício Trade Center, em Icaraí, onde já havia outras pequenas indústrias como a nossa. Contratamos costureiras, cortador, passadeira, boy e começamos a trabalhar. A Anna com seu talento inato para costuras ia aprendendo com as costureiras os macetes do lado industrial dessa atividade. Minha parte era compra de matéria prima, desenho de estampas a serem impressas nas peças, cuja impressão inicialmente era terceirizada e mais tarde eu próprio acabei por aprender como fazer isso e não dependia mais de outras pessoas. Além disso minha parte também contemplava uma atividade para a qual eu não tinha o menor jeito, que era a de venda, que implicava relacionamento com os comerciantes que regateavam o máximo para ganhar também o máximo. Detestava esta parte, mas alguém tinha que fazer e esse alguém era eu. Para aprender os macetes desta atividade, a ajuda de meu amigo Eduardo Caillaux foi fundamental. Ele era vendedor do Cantão e me levava nas viagens que fazia em sua praça e me apresentava às lojas que ele julgava que absorveriam nossa produção. Mas a dificuldade era minha. Acabamos por contratar vendedores (todos uns amadores) que vendiam nossa produção de forma rarefeita. Chegamos a contratar um profissional que dava assessoria técnica a esse segmento de negócio para ver se conseguiríamos sair do chão, mas malgrado nossos esforços, não deu certo. Moral da história, depois de algum tempo constatamos nossa definitiva incapacidade como empreendedores e tiramos o time de campo. A Anna voltou para junto de sua irmã Cristina que continuava com a loja de material para decoração.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Amigos sumidos


São vários os amigos que foram sumindo ao longo da vida. Mas de muitos tenho saudades e boas recordações. Muitos me ajudaram, me ensinaram, foram companheiros em horas difíceis, me disseram coisas importantes. Alguns sumiram para nunca mais, outros eu simplesmente perdi o contato. Mas onde quer que estejam, tanto os que já se foram quanto os que ainda estão por aí em algum lugar, fiquem todos sabendo que guardo-os do lado esquerdo do peito.

Eduardo Caillaux
Gilda e Freida
Carl Regehr e Grace GianforteRutinha Cheferrino Waldir AbifadelÉlcio CostaDr. SylvioJulio Cesar Christophe da Silva (Murce)Jefferson Barroso, o Tio Gê
Paulo Ramagem
Marcus Llerena e Rosani Ramos
Bia Bornhausen
Alice Maria Ruckert
Arino de Mattos Filho

28. Bloco das Piranhas


Foi num Carnaval no início dos anos 80 que eu resolvi sair no tradicional Bloco das Piranhas de meu grande amigo Bernardo Ferreiro. A concentração foi na casa dele, lá no morro do Abílio. Naquele tempo eu tinha um Dodge Dart V8, 2 portas, azul metálico com teto de vinil preto que tinha o apelido de Alberto Roberto (personagem do Chico Anísio que interpretava um ator de teatro canastrão e completamente ultrapassado) que caía nele como uma luva. Fui nesta figura aí dirigindo o Alberto Roberto, desde as Charitas até a rua Indígena que dava acesso à uma travessa que levava à casa do Bernardo. Lá rolou de tudo e de lá saímos (uma verdadeira cachorrada) batucando e cantando pelas ruas Marques de Paraná, São João, Barão do Amazonas e Conceição. Paramos em todos os bares, cantamos e sambamos pelas ruas. Nem eu mesmo, vendo esta foto hoje, acredito que tenha sido capaz de ter feito aquilo. Mas me lembro que foi muito divertido. O bloco era puxado pelo Maurício Borges (Macaco) e atrás dele vínhamos nós. Inesquecível!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

27. Tentativa de decolar

O estúdio no porão da casa em frente à nossa, nas Charitas era realmente muito simpático. Pelo lado de dentro da porta de vidro ficava um boneco em tamanho natural do Fantasma (das histórias em quadrinhos) que tinha sido um brinde da Editora Globo para a qual eu e o meu amigo Aldo Luiz de Paula Fonseca tínhamos feito alguns trabalhos.



As paredes eram revestidas de trabalhos que eu tinha feito recentemente para diversos clientes/amigos. Trabalhos para a Chuka (empresa de confecção infantil do Waldir Abi-fadel), para a Rapo (empresa de confecções da Telma Yamagata), para a VendeModa (empresa de moda adulta também do Waldir Abi-fadel), trabalhos para a Sobremetal (multinacional de processamento de escória de aço cujo diretor era o Zeca Gurgel do Amaral), Relatório Anual para a Petrobrás (intermediado por meus amigos Jorge e Alexandre Sávio da Gráfica Europa), início de uma relação de trabalho e continuação de uma relação de amizade que se aprofundou posteriormente com meu velho e hoje saudoso amigo Arino de Mattos Filho, tabelião de Niterói para quem desenhei inicialmente um logotipo para seu cartório que era o único da cidade que ostentava uma imagem que se reproduzia na fachada, nos papéis, nas capas dos processos e em vários ítens, algo inteiramente inusitado, pois todos os outros usavam aquelas pastas tradicionais feitas na tipografia da esquina e que se usam até hoje. O momento na economia era de um certo aquecimento e eu senti que aquele escritório alí naquele porão úmido das Charitas deveria adquirir uma feição mais profissional e aluguei uma sala na sobreloja do edifício Center IV, em Icaraí, justo em cima da loja de venda de materiais de decoração (cortinas, revestimentos, etc.) que minha mulher tinha em sociedade com a irmã Cristina. Meu ex-aluno Nelson Moraes Mendes tornou-se meu sócio e a Ângela Lima Souto continuou sendo nossa estagiária. Não sei de onde surgiu a Claudia Morpurgo, filha da Tereza, e neta do velho Dr. Admar Morpurgo, velho amigo da família de minha mãe, um velho médico histriônico. Ela era estudante de Belas Artes e pensou que podia também estagiar ali conosco mas acho que percebeu que aquela não era a praia dela. De alguma forma o escritório ia se mantendo e fazendo trabalhos basicamente para as indústrias e principalmente para o comércio de moda de Niterói. Muitas lojas de Icaraí tinham marcas desenhadas pelo nosso escritório. Nosso boy Zé Carlos continuava firme conosco e a Laura, irmã da Ângela Lima Souto era a nossa secretária. Minha relação de trabalho com o Aldo Luiz - que àquela altura parecia não estar mais satisfeito com o emprego de diretor de arte da Polygram (gravadora e editora fonográfica) desenvolveu-se mais e virou uma parceria empresarial. Abrimos uma firma que se chamou Artistas Gráficos Ltda.

Naquele mesmo endereço do Center IV. Esta tentativa de tornar-me empresário, aliada à crise que se abateu sobre a economia brasileira com o fim do chamado "milagre econômico" como o chamou o ministro Delfim Netto, me fez vender a casa das Charitas. Fomos morar por empréstimo num apartamento que tinha sido do Aldo Luiz e naquele momento era do publicitário Roberto Wrencher, amigo do Aldo Luiz, e que ficava na rua Lopes Trovão, esquina com rua Barros. Minha mãe havia morrido recentemente e eu e meus irmãos tínhamos herdado um belíssimo apartamento que era nosso (em usufruto dela) alí mesmo na rua Barros, a uns 50 metros de apartamento do Roberto Wrencher. Fomos para lá então, e com o dinheiro da venda da casa das Charitas, montamos o apartamento da rua Barros - este da herança. Tudo novo. Todo atapetado com tapetes Cerello; móveis todos novos da Tok-Stok. Como o Aldo Luiz vinha da indústria fonográfica, trouxe consigo alguns clientes dessa área. Fizemos alguns trabalhos interessantes para esse segmento. A capa do primeiro disco do Lulu Santos - um compacto simples, que é como se chamavam os discos daquele formato, com uma música de cada lado; uma capa muito interessante para o disco 'Escândalo' da Ângela Rorô; a capa do primeiro disco lançado após a morte da Elis Regina, a capa de um disco extemporâneo da Marília Medalha, outras capas para a Warner Records através do Heleno Oliveira, um dos executivos da gravadora, das relações do Aldo Luiz.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

CPMF - Perguntar não ofende

Os bancos pagam CPMF ao governo? Não são os bancos que fazem as maiores movimentações financeiras? Como é que são os bancos as empresas que têm aqueles lucros astronômicos que vemos publicados nos jornais? Eu decidi não usar mais cheque, e só tenho conta em banco porque o meu mísero salário de professor aposentado é depositado no banco pelo governo. Vou ao banco no dia do pagamento, saco tudo, que aliás é quase nada, e pago as contas das empresas que - estas sim - produzem alguma coisa que me mantém sobrevivendo (alimentos, vestuário, remédios, transportes, luz, gás, telefone, etc). Já enfrentei momentos de dificuldade financeira em que tive que recorrer a particulares que emprestam dinheiro à juros. OS JUROS QUE ELES COBRAM SÃO MAIS BARATOS DO QUE AQUELES QUE OS BANCOS COBRAM (mas mesmo assim são chamados de agiotas, quando agiotas são os bancos protegidos pelas benesses do governo). E esses particulares ganham dinheiro nos emprestando dinheiro.
O que é que os bancos produzem? CPMF? Aqui, ó!

domingo, 9 de dezembro de 2007

26. Rocks rurais.


Foi quando morávamos na casa das Charitas que começamos a acampar com mais freqüência. Descobrimos um lugar que hoje não mais permite que nele se acampe, no alto das Agulhas Negras mais perto daqui de Resende onde hoje moramos. Íamos de Niterói com os amigos, depois de muitos preparativos e reuniões onde se decidia o que íamos levar, e juntávamos nossas muitas barracas que formavam num grande circo e era bonito de se ver.



Demandava uma certa engenharia para armar as barracas todas de um certo modo. Nossa vontade de acampar era tão grande que em todos os feriadões, desses que juntavam a quinta-feira da semana anterior com a terça-feira da semana seguinte deixando enforcadas a sexta-feira da semana anterior e a segunda-feira da seguinte subíamos a serra da Mantiqueira indo pela Dutra e saindo dela no entroncamento para Engenheiro Passos indo em direção a Itamonte, por uma belíssima estrada bem desenhada, com as curvas compensadas, que tinha sido projetada pelo pai de João Sampaio (nosso amigo de juventude e arquiteto que foi prefeito de Niterói). Numa localidade chamada Registro, deixávamos essa estrada e entrávamos à direita por uma estradinha que ia serpenteando e subindo 8 km em direção às Agulhas Negras. Lá em cima num local conhecido por Brejo da Lapa tínhamos o "nosso lugar".


Os acampamentos eram ótimos. Muito frio. Geadas às vezes no inverno e gêlo sobre a água do brejo. Fogueiras à noite, todo mundo tomanho banho nú juntos, e fazendo cocô no mato. Algumas vezes fechávamos as barracas e descíamos a estradinha indo até a cidadezinha de Itamonte. Uma das vezes que fomos lá, nossas filhas e a Luluca que era uma das amigas delas e que foi acampar conosco, entraram num concurso de dança de adolescentes numa matinê na "Boite Barrica Som" e arrebataram todos os prêmios e devem ter mexido com os corações dos jovens locais. Em outra ocasião, também em Itamonte, fomos durante um carnaval assistir ao desfile das pobres escolas de samba locais. O samba-enredo de uma delas, cujo nome não me lembro, exaltava as belezas locais e dizia: "Itamonte, seu nome já diz/Nasceu entre os montes/ Seu povo é feliz".



Voltávamos para nosso acampamento de madrugada e ele estava lá, intacto, no ermo do Brejo da Lapa, iluminado pela luz de uma lua que parecia um enorme queijo de minas. Depois de termos ido dezenas de vezes acampar no Brejo da Lapa, decidimos explorar outros locais e fomos pela primeira vez a Visconde de Mauá. Naquele tempo (entre 1975 e 1980) lá não havia senão algumas pouquíssimas pousadas. Acampamos onde anos mais tarde foi construído e está lá até hoje (2007) o Hotel do Amaro. Chovia torrencialmente às tardes e às noites. Ficávamos nas barracas tocando violão e cantando, e pelas manhãs saíamos para explorar o local. Tudo era bonito e divertido. O rio Preto era limpíssimo e nos proporcionou muitos banhos nos quais deixávamo-nos levar pela sua correnteza. Desde aquela primeira vez, fiquei apaixonado pelas belezas de Visconde de Mauá e disse que um dia ainda iria morar lá. Animei meu cunhado Paulo Ramagem a conhecer aquele lugar e ele foi se hospedar com a Luiza e os filhos (acho que três naquele tempo) no hotel Chalés Planalto que hoje tem outro nome. Ele também se apaixonou pelo lugar e acabou comprando um grande sítio onde construiu uma casa.