terça-feira, 18 de dezembro de 2007

30. A White Martins

Minha notória insatisfação e impaciência com os empregos que tive me levou a mais uma tentativa de vôo solo. Depois do fracasso de nossa pequena indústria de confecção de roupas, quando já morávamos numa belíssima casa que alugamos na rua Equador 33, em Pendotiba, após alguns meses de tentativas e uma certa espera angustiante por uma possibilidade de trabalho, esta veio, através de um ex-colega dos tempos de SERPRO, o Francisco Paulo de Melo Neto e que naquele momento estava trabalhando na White Martins, uma poderosa multinacional de industrialização de gases. Entrei lá em 1986 para ser supervisor de uma equipe de designers encarregados de cuidar da imagem da empresa, que tinha 235 filiais por todo o Brasil. Para minha grande satisfação encontrei uma velha colega da ESDI, a Angela Lemos Basto, designer competente e mulher muito inteligente. Nós dois chegávamos sempre antes do início do expediente e na minha sala líamos juntos e comentávamos as notícias do Jornal do Brasil e recordávamos pessoas e fatos de épocas passadas de nossas vidas.

Aí estão, Petershon, Vinício, Angela, eu, Edson, Eduardo e Ivan

O gerente de nosso departamento, ao qual eu e minha pequena equipe estava subordinada era o Moacyr Gomes Pereira, um ex-padre gaúcho que nos administrava como se fôssemos noviços num seminário. O departamento sob sua gerência tinha duas supervisões, uma das quais era a minha e a outra foi ocupada por um anglo/brasileiro, já falecido, chamado Jeremy Hughes, vulgo Jerry. Por razões que não vêm ao caso, o Moacyr saiu da empresa, e a estrutura modificou-se adquirindo um status mais elevado e para comandar aquilo que agora passava a ser o que a White chamava de Área de Comunicação Social, veio um advogado do nordeste chamado Ivan Nahon. O Jerry achou naturalmente que seria indicado para a sucessão do Moacyr, e começou a desenvolver um trabalho de bastidores para que isso acontecesse. Qual não foi a sua surpresa, e mais ainda a minha, quando o indicado para ser o gerente do departamento fui eu. Aquilo significava prestígio, um salário bastante melhor do que o de supervisor e sobretudo mais responsabilidade. O Jerry ficou frustradíssimo, coitado, e passou a fazer uma oposição descabida a mim e prejudicial ao trabalho. Se antes a minha equipe era de uma meia dúzia de pessoas, agora era de algumas dezenas. Eu disse que só aceitaria o cargo de gerente se fossem atendidas duas exigências: 1) que a Angela viesse a ser promovida a supervisora na vaga que eu deixava e 2) que o Jerry fosse transferido para algum outro lugar, pois eu não o queria no meu departamento (acho que ele foi sumariamente demitido).
Reuni os melhores de meu departamento, entre eles a Angela Lemos Basto e o Jorge Tadeu Borges Leal, e propus uma espécie de seminário onde discutimos por vários dias o departamento na Área à qual estava subordinado, suas atribuições e objetivos, sua composição e juntos constatamos que não apenas ele, mas toda a Área precisava ser enxugada e redimensionada para que pudesse funcionar com a eficiência necessária. Levamos nossas conclusões ao gerente da Área que aprovou nossa proposta. Afinal, éramos profissionais de comunicação e não burocratas, e ele, embora advogado, percebeu do que sua equipe era capaz. Sabíamos o que estávamos propondo. Assim, de uma forma horrorosa, da noite para o dia, às vésperas das festas de fim de ano, tive a missão de demitir dezenas de pessoas. Aquilo mexeu profundamente com minhas entranhas e me fez conhecer um pouco da insensibilidade - que naquele momento tive que representar - daquela companhia gigantesca que tinha perto de 10.000 empregados. Por outro lado mantivemos algumas poucas pessoas entre elas a Giselda (que também tinha sido minha colega no SERPRO) e contratamos outras, entre elas as competentes Cristina Miranda e a Mazé - esta última acho que está lá até hoje - e o Fernando Maranhão. Todas essas pessoas eram profissionais muito competentes e a elas cabe todo o crédito pela trabalho que o departamento que eu gerenciava foi capaz de realizar.
De qualquer modo, consegui ficar na White três anos, com uma equipe de pessoas maravilhosas, até que, outra face horrorosa dela se apresentou. Os executivos - burocratas sem conhecimento específico do assunto que se propõe e gerenciar, estão em constante atividade predatória e fazem de tudo para tomar o lugar daqueles que conseguiram desenvolver um bom trabalho e de algum modo se destacaram. Desse modo, fui substituído sem uma explicação sequer, por um jovem ambicioso (e que algumas vezes se fez passar por meu amigo), com um padrinho mais ambicioso ainda, que por sua vez veio a substituir o Ivan Nahon. Eu fui transferido para um lugar longe da matriz, aonde estava, e fui colocado numa sala sozinho, sem ter o que fazer (acho que o Ivan foi demitido). Imagino que isso era uma estratégia para que eu acabasse pedindo demissão. Mas o que eu fiz foi ir ao novo gerente da Área e disse que aquilo era um desrespeito e que eu é quem estava demitindo a companhia naquele momento; que ele me indenizasse pelos anos que lá fiquei e pelo trabalho de reformulação que eu e minha equipe fizemos na Área que ele agora dirigia, e que funcionava com eficiência, pois isso era o mínimo que eu merecia. Peguei a indenização que me coube, e que não era pouca, minhas coisas e fui embora.

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