terça-feira, 20 de novembro de 2007

1. De Corumbá para Niterói

Fazem alguns (poucos) anos que não vou a Niterói onde vivi 50 anos. Era 1945 quando minha família: minha avó, meus pais, meus três irmãos e eu, chegamos de Corumbá onde eu nasci em 1940.
Meu pai vinha depois de ter terminado seu contrato de trabalho para trabalhar como chefe da seção de desenho da Comissão Mista Ferroviária Brasileira Boliviana que estava construindo uma estrada de ferro que atravessaria os Andes e ligaria a cidade de Santos no Litoral de São Paulo à cidade de Arica que é uma província do Chile localizada na região de Tarapacá, fazendo assim a ligação entre o Atlântico e o Pacífico e beneficiando a Bolívia com uma saída para o mar.

Viemos num trimotor Junkers JU 52 como este da fotografia acima cuja fuselagem era de alumínio corrugado feito porta de armazém e que fazia um barulho ensurdecedor. A aeromoça distribuía algodão para que colocássemos nos ouvidos. Não tinha pressurização, voava muito devagar - a viagem de Corumbá ao Rio de Janeiro demorou 9 horas. Eu tinha 5 anos de idade mas me lembro até do casaco que estava usando, sobretudo dos botões que eram uns hemisférios de couro marrons. Meu irmão mais novo usava um casaco igual. Ambos os nossos casacos tinham sido de nossos dois irmãos mais velhos e tinham sido guardados para nós usarmos um dia. E o dia foi aquele. A falta de pressurização e de um revestimento adequado da cabine dos passageiros contribuíam para que a temperatura baixasse e desse utilidade aos casacos que provavelmente jamais seriam usados no calor de Corumbá. Não me lembro como foi nossa chegada ao Rio e para onde fomos imediatamente. Fomos morar no bairro de Icaraí que na época era assim:

O mais para trás que minha memória vai é de nossa instalação no Icaraí Palace Hotel, que ficava na esquina da Praia das Flechas com a rua Paulo Alves. Eu achava o hotel enorme. De seus jardins em frente à praia o acesso era feito através de uma escadaria que se dividia em duas do meio para o fim. O apartamento onde ficamos por algum tempo tinha um pé direito altíssimo e a janela que dava para frente, portanto para a praia era muito alta. À noite ouvia-se o barulho das ondas quebrando na praia. Depois de algum tempo mudamo-nos para uma pensão na Praia de Icaraí, a pensão Alvear, que ficava no meio do quarteirão entre as ruas Lopes Trovão e Presidente Backer. Tanto no Icaraí Palace Hotel quanto na Pensão Alvear ficamos pouco tempo, pois meu pai estava procurando uma casa que pudesse comprar, o que acabou acontecendo.

2 comentários:

SOS Miséria disse...

Bom dia ! Veja que visitei Niterói uma vez, fazem 3 anos e quase morei em Corumbá ! Foi Deus quem não quis. Acabei indo morar em Goiânia e hoje estou longe do Brasil.
Deixo-te um grande abraço.
Alda

Anônimo disse...

Bom recuperar, vasculhando a memória, histórias importantes que estavam praticamente perdidas. De Corumbá às fraturas, ao colégio toda a vida do Caloga. Vou ler mais.
Pescoção
Jorge Savio