quarta-feira, 21 de novembro de 2007

5. Grupo Escolar Joaquim Távora

De meu curso primário no Grupo Escolar Joaquim Távora, no Campo de São Bento, ainda guardo vivas na memória muitas recordações. Os nomes de algumas de minhas professoras - Dona Zila Coutinho Teixeira, da primeira série (eu tinha então 7 anos), Dona Cicéia, na segunda série, que morava na rua Barros, hoje Ministro Otávio Kely, ao lado da Padaria Real do Seu Armando, onde se comprava além do pão cozido num grande forno à lenha, manteiga à peso que era tirada com uma espátula de madeira de dentro de uma grande lata e colocada sobre um papel - o chamado papel manteiga - na balança, e café que era moido na hora em uma máquina que tinha um depósito de vidro em sua parte superior que continha os grãos que eram triturados e moídos e saíam pela parte de baixo diretamente para um saco de papel. Na terceira série minha professora era a Dona Izaura e na quarta e quinta a professora era a mesma, Dona Jandira Abi-Ramia Fernandes. Eu era apaixonado platonicamente por uma de minhas coleguinhas que se chamava Lia Viana de Andrade e Souza. Ela tinha uma irmã mais nova que se chamava Lígia. Eram filhas de um piloto de aviões, acho que da Panair, e moravam em São Francisco, naquela época um lugar longínquo e com muito poucas casas, na rua Araribóia. Eu costumava ir de bicicleta até lá (era bem longe de minha casa) sempre com a esperança de vê-la, o que nunca aconteceu. Algumas vezes vi seu pai que era um homem bonito e tinha no meu imaginário uma aura de aventureiro. A mãe delas vi muitas vezes pela cidade. Era um tipo parecido com a Katherine Hepburn. Na escola eu não tinha coragem de sequer dirigir a palavra à Lia. Mas a achava linda e sonhava com ela. Jamais tornei a vê-la. A escola era muito alegre e interessante. Além das aulas propriamente ditas, havia outras atividades. Dentre elas, duas para as quais nos preparávamos durante o ano todo. Eram o Clube Panamericano e o Clube de Brasilidade. Eu pertencia ao primeiro. O objetivo era fazer com que interagíssemos, através de cartas que demoravam meses de ida e volta, com estudantes dos países americanos, e os membros do clube eram como que 'embaixadores' do Brasil naqueles países. Eu era o 'embaixador' do Brasil em Honduras. Uma vez por ano havia uma festa comemorativa com direito a um desfile e uma apresentação no palco do 'Pavilhão' ao som de 'Deus salve a América' que era tocado ao piano pela Dona Silvia, professora de música (que morava quase em frente à nossa casa), e cuja letra era mais ou menos assim: Deus salve a América/ Terra de amor/ Verdes mares/ Florestas/ Lindos campos cobertos flor/ Berço amigo/ Da bonança/ Da esperança/ Do altar/ Deus Salve a América/ Meu lar, meu lar. Depois eram distribuidas fitinhas coloridas aos alunos que tinham melhor se destacado durante o ano. O Clube de Brasilidade, por sua vez, tinha o objetivo de fazer com que os alunos conhecessem um pouco mais o Brasil, mas tinha um apelo ufanista getuliano - pois era o que se vivia na época - e, de alguma forma isso não me agradava. Como a Lia Viana de Andrade e Souza sequer olhava para mim, acabei, durante a quarta série me apaixonando, platonicamente outra vez, por uma linda menina lourinha que tinha um grande sinal na face esquerda que lhe dava um charme especial. Seu nome era Anne Marie de Menezes Ebert. Ela igual sequer me notou. Durante os recreios as brincadeiras dos meninos eram brincar de escambida - um jogo de pegar que se escondia e trazê-lo para o seu lado para ajudar a pegar os que ainda não tinham sido achados, e jogar bola de gude em três tipos de jogo diferentes: 3 búricas, beú, e círculo. Nas 3 búricas o objetivo era percorrer fazendo com que a bola fosse jogada sucessivamente dentro de cada uma das búricas - pequenas covas no chão - um percurso de ida e volta no qual quem errasse poderia ter sua bola mandada para longe por um teco do adversário. Quem chegasse primeiro na volta à primeira búrica ganhava e ficava com as bolas dos adversários. No beú, era desenhado uma forma fusóide no chão onde cada jogador 'casava' suas bolas, como se fossem fichas num jogo de cartas. Do beú os jogadores atiravam suas bolas em direção a uma linha riscada no chão que ficava distante uns 4 metros e a ordem de jogar então obedecia à maior proximidade das bolas de cada jogador desta linha. A esta primeira jogada classificatória, dava-se o nome de 'tirar o ponto'. Desta linha então as bolas eram atiradas em direção ao beú com o intuito de deslocar para fora deste as bolas que lá estavam 'casadas' que eram então ganhadas por quem as deslocava, até que errasse quando aí o próximo jogador pela ordem do 'ponto tirado' fazia a mesma coisa. Quem era muito bom jogador de bola de gude recebia o qualificativo de "bide". O círculo era, em essência semelhante ao beú com a diferença de que tinha uma pequena búrica no centro que era o alvo do 'ponto', de tal forma que as bolas dos jogadores atiradas de fora do círculo deveriam se aproximar o mais possível desta búrica do centro - ou mesmo cair dentro dela, o que era muito difícil - para estabelecer a ordem das jogadas. As bolas de todos eram casadas no interior do círculo e ao deslocá-las para fora deste, quem as deslocava ficava com elas.

3 comentários:

Marcelo Rafael disse...

Cara adorei ler o que vc escreve sobre sua infancia, a sua professora Izaura era minha tia, tbem tive estes amores platonicos na infancia, não sei se vc conhece minha mãe Carolina Dias o qual foi professora e Diretora no Colegio Miguel Dias, hoje moro em Curitiba ja a muito tempo sai de J. Tavora com 13 anos ao concluir meu segundo grau, sou Auditor e sempre que possivel vou para lá ver minha mae que mora na cidade novamente. Das poucas vezes que fui a J. Tavora não me senti em casa pelo fato de nao ter mais aquela vida de moleque de brincar na rua e tal hoje a cidade cresceu e onde eu brincava virou rua de movimento. mas foi um prazer em deixar um comentario aqui. caso queira um dia tc me add no msn marcelo_rafael_12@hotmail.com e quem sabe tropcamos figura de finfancia na city . Abraço e sucesso pra ti . Há minhas paxoes ai em JT foi pela Fabiola Nicoleli e Fabiola de Cassia creio que ambas não moram mais ai . kkkkkkk Tempos bom .

Anônimo disse...

Sensacional!!! Também fui aluno do Joaquim Távora. Eu moravam bem pertinho, no Ed. Lindóia, que ficava na antiga Av. Estácio de Sá. Me recordo do nome da minha professora, D. Maria Ceci. Parabéns pelo depoimento, simplesmente sensacional. Um forte abraço

Luís Carlos de Paula

Unknown disse...

Que memoria..hem!
Tambem estudei la.