domingo, 2 de dezembro de 2007

15. O Design


Minha vida deu a virada definitiva a partir de um toque profundo que recebi de uma pessoa que apareceu na minha vida e que como veio desapareceu. Em 1965 eu trabalhava como desenhista no escritório de um engenheiro de origem alemã, chamado Adolf Fritz Immergut que ficava na esquina da rua Nilo Peçanha com a avenida Calógeras. Um dia surgiu no escritório procurando emprego um jovem engenheiro baiano recém vindo de sua terra. Chamava-se Nudd David de Castro e vinha para o Rio depois de ser preso e perseguido pela ditadura . Fizemos amizade instantânea. Levei-o a conhecer os lugares onde costumava almoçar, e trocamos conversas sobre nossas dificuldades. As dele nos embates políticos e as minhas na afirmação profissional. Ai ele me disse algo como: "Você tem mais dentro de sua cabeça do que o necessário para fazer o que faz; vai querer continuar a ser um desenhista para o resto da vida e não crescer?" Aquele toque foi definitivo. (Desde então tenho procurado o Nudd, sem sucesso, para lhe dizer quão importante e definitivo foi o toque que ele me deu naquela época e que mudou a minha vida daquele momento em diante). No dia seguinte, como se tivesse sido um sinal, o Jornal do Brasil, que eu lia na barca durante a travessia de Niterói para o Rio, publicava uma matéria de página inteira de seu Caderno B sobre o aniversário da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), tomei conhecimento daquela coisa nova que se chamava "design". Era aquilo! Fui a ESDI e fiquei maravilhado com o que vi. Era mesmo aquilo! Procurei seu diretor, o arquiteto Flávio de Aquino, hoje já falecido e pedi para assistir como ouvinte as aulas do 1º ano para ir me familiarizando com aquela coisa nova e me preparando para o vestibular duríssimo que só admitia 30 alunos por ano. Eu já era casado, minha primeira filha já tinha nascido e a Anna estava grávida da segunda. Tinha que jogar todas as minhas fichas naquele empreendimento. Pedi a meu pai que nos recebesse em sua casa pois eu teria que dedicar todo o meu tempo à preparação para o vestibular e depois para cursar o 1º ano que era em horário integral. Passei no vestibular!! Fui um dos alunos mais aplicados durante aqueles 4 anos. Grande escola, grandes professores, grandes amigos, grandes profissionais. A Escola, na época era enormemente influenciada pela Hoschule Fur Gestaltung de Ulm que foi a pioneira mundial do ensino sistemático do design e que foi desmontada pelo nazismo e remontada depois da II guerra . A ESDI era ortodoxa, cartesiana e muito rigorosa, com alguns professores que tinham sido ex-alunos da nova escola de Ulm, entre eles o brasileiro Alexandre Wollner, e o alemão Karl Heinz Bergmiller. Tínhamos também excelentes professores brasileiros como Gustavo Goebel Weine Rodrigues, Humberto de Moraes Franceschi e Aloísio Sergio Magalhães, Décio Pignatari. Havia outros, mas os citados foram o que mais me marcaram. Os colegas eram em sua maioria filhos bem nascidos de famílias cariocas e alguns discriminavam os três niteroienses de então: Paulo Milton de Alencar Barreira - o PM, Victor Moura Neves - falecido prematuramente, e eu. Eu não percebia esta discriminação que só mais tarde me foi revelada por um dos que eu considerava o meu melhor colega, Arisio Rabin - que hoje é professor da ESDI. A minha aplicação não deixava tempo para que eu percebesse e me preocupasse com essas bobagens. Além do Arisio, o Claudio Mesquita também foi um colega muito chegado. Entre as meninas, a Angela Lemos Basto (falecida tambném prematuramente e de quem falarei em outro momento), A Ilse Cassia de Andrade (de quem também falarei em outro momento) a Virgínia Quental, a Lilian de Assunção Hess, a Ana Luiza Morales, a Solange Jansen (que me acusa até hoje injustamente de ter cortado o revestimento da prancheta dela), a Luli - Heloisa Brandão Orosco, que virou cantora. Os citados e citadas foram da minha turma. Há outras figuras da minha turma e das outras três turmas (eram só quatro turmas por ano) sobre as quais ainda irei falar e que foram marcantes e interessantes.

4 comentários:

Anônimo disse...

Mas meu Deus, o passado o condena?O aprova? O q é isso? Acabo de me colocar na lista de espera dos lembrados. Existe uma? Acabo de inventar? Q nada, sei bem q já deve existir! Querido, hoje tb estou revisitando o passado, o q e uma delicia. Recordar e viver! A ligação da Ana para alice foi otima! Bjs Espero a qualquer momento uma inclusão nossa nas histrorias da sua vida. Algo banal... nada além ...Bjs

Lia and Jose disse...

Alo Caloga
Nao sei se a idade, ou a distancia, ou ambas,`as vezes me pego a procurar nomes do meu passado na internet. Hoje achei Franceschi e Voce.
Gostei de ler os breves comentarios sobre a ESDI, essa fase alemã da nossa vida que imprimiu fortes marcas na minha vida profissional.
Estou na Inglaterra ha 4 anos, mas acho que voltando em breve pro Brasil.
Um abraço e um beijo,
Lia Monica Rossi

Anônimo disse...

Caríssimo Caloga! As lembranças são importantes! São registros essenciais de nossa passagem. Também sou Designer. Não sei se lembra de mim, mas fui sócio do Paulo Milton de Alencar Barreira (hoje, Tom Alencar)e perdi contato com ele. Agradeceria muito se pudesse me passar seu e-mail. Meu e-mail é: athaydecosta@hotmail.com.
Obrigado.
Fenando Athayde

Anônimo disse...

Exelentíssimos,
Eu tive o privilégio de trabalhar com o PM (Tom) no Onziá e daqui da Europa, mantive contato com ele durante algum tempo. Atualmente, as mensagens que lhe envio aparecem devolvidas e confesso, estou preocupado. Caso alguem saiba de alguma novidade, peço que me contacte.

Agradecimentos antecipados,
Marcelo Aesse

e-mail: marcelo@marcelostudio.com