quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

18. How do you do, Jack!?


O edifício da South Coles Ave. era igual a este.
Só não tinha as grades na frente.

Instalados num apartamento de dois quartos no número 7619 da South Coles Ave., um daqueles prédios velhos que se viam nos filmes, todo de tijolinho, com seus "basement apartments", saí para comprar nosso primeiro lanche. Pão de forma, mortalela (que já vinha fatiada e embalada de fábrica - nunca tinha visto isso antes) e cocacola. Tinha uma "grocery shop" na esquina de nossa rua. Alguns dos produtos nas gôndolas da mercearia eram absolutamente iguais aos que eu já conhecia (a globalização já era uma realidade, só que ainda não se falava dela), mas outros eram completa novidade. O atendente da mercearia que tinha um certo sotaque estrangeiro foi extremamente simpático comigo. Ele era árabe, tinha um nome complicado e me disse: "You can call me Jack". Foi dele as boas vindas que recebi na terra do Tio Sam. Não se via ninguém na rua. Era estranho. No dia seguinte voltei ao Jack e ele me disse que aquele bairro estava ficando perigoso, pois os negros estavam se mudando para lá em virtude do baixo preço dos aluguéis e que por isso mesmo estavam cada vez mais baixos e havia um clima de insegurança no ar por causa da discriminação. Não entendi muito bem o que aquilo significava mas fiquei preocupado. Um primo longínquo da Anna, o Julio Isnard, estava lá em Chicago fazendo um MBA na Chicago University. Ligamos para ele que veio com a mulher, a Beth, trazendo um "six-pack" de cervejas Shlitz e uns charutos. Disse-nos que devíamos procurar um apartamento em outro lugar pois aquele bairro era meio barra pesada. Julio me apresentou a um colega dele que me vendeu seu carro. Um Plymouth Valiant 63 preto, hidramático, velho de guerra, todo enferrujado por US$ 250,00, mas que aguentou o tranco comigo. Quando viemos de volta para o Brasil achei que ia acabar largando o carro para sempre no aeroporto, mas acabei vendendo-o a um vizinho por US$ 125.00. O carro gastava um litro de óleo por semana, mas, fazendo juz ao nome, nos a Washington onde fomos passar as festas de fim de ano na casa do Sergio, e trouxe de volta.



Este Valiant 63 aí está apenas um pouco pior do que o meu era.

Com a ajuda de um outro casal de amigos do Julio, a Maria Célia e o Vic (Victor Pasnick) americano colega do Julio na University of Chicago, fomos ver um apartamento em Up Town, já quase fora dos limites urbanos e entrando no primeiro subúrbio ao norte de Chigaco - Evanston. Era um edifício novinho, com apartamentos de 2 quartos para famílias tipo "low income". Ou seja, tipo a gente. Já tínhamos ido ao Salvation Army onde compramos a pouca mobília usada baratíssima com a qual mobililiamos o apartamento da Coles. Aluguei um reboque, atrelei ao carro, despedí-me do Jack e fizemos a mudança nós mesmos. O apartamento que ficava no 12º andar era grande e novo. Ficava West Eastwood Ave. duas quadras da Lake Shore Drive para dentro, na beira do Lago Michigan que dava para ver uma pontinha de nossa janela. Terminamos de mobiliá-lo com coisas que catávamos no lixo. Descobrimos o dia (sempre à noite) em que passava o caminhão do lixeiro. Então saímos de casa à tarde para ver o que encontrávamos entre as coisas que as pessoas jogavam fora. Conseguimos assim um grande tapete para a sala, um umidificador (extremamente necessário no inverno quando a casa fica toda fechada com o aquecimento ligado) e várias outras coisas. A mala do carro voltava cheia de cacarecos. Nossas filhas se divertiam com aquelas incursões atrás do refugo da riqueza de nossos irmãos do norte. Durante o inverno que era muito frio sempre de mais de 10º abaixo de zero, a noite chegava às 4 da tarde e os dias eram cinzentos e tristes. De nossa janela essa era a vista que tínhamos da Lake Shore Drive e do Lago Michigan ao fundo.

Olhando da janela de nosso apartamento no 12º andar, o que se via era um grande terreno baldio coberto de neve que eu atravessava todo dia para comprar pão para o café da manhã. Aquela rua lá, depois do terreno baldio é a Wilson Ave. e a transversal é a Sheridan Road


No térreo do segundo prédio dos três que aparecem na foto ao longo da Wilson Ave., funcionava à noite um bar A Go-Go, com garotas fazendo strip-tease, que minha sogra quando esteve nos visitando perguntou o que era e eu respondi que era uma boite A Go-Go. Ela entendeu mal e passou a chamar aquele inferninho de "Cocô-bol", nome que acabou se eternizando entre nós.

Um comentário:

Different, but True disse...

quero saber mais sobre isso!!
:)
beijos