quinta-feira, 29 de novembro de 2007

11. Sempre a música

A música na minha vida vem de muito longe. Até aonde consigo voltar no tempo, ela vem desde meu bisavô, o maestro Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, irmão de meu tio bisavô ilustríssimo Augusto Severo, um dos pioneiros da aviação e que morreu em Paris a 12 de maio de 1902 ao pilotar seu balão PAX. A casa de minha família, na minha infância era muito musical. Minha mãe tocava piano e cantava. Tinha uma hora do dia em que ela se sentava ao piano e fazia vocalises para manter a voz. Além desses exercícios, ela tinha um repertório que cantava em certas ocasiões de reuniões familiares.


Meu irmão mais velho, o Augusto, começou muito cedo a estudar música e tocava violão muito bem. Na verdade ele toca todo tipo de instrumentos de corda. Numa certa época (anos 50) reuniu numa das salas de nossa casa uma verdadeira orquestra de câmara que ele regia, além de fazer os arranjos e escrever as partituras dos diversos instrumentos. Essa orquestra tinha, se bem me lembro, os seguintes instrumentos: piano, oboé, alguns violinos, viola, violoncelo. Apresentaram-se em público com sucesso algumas vezes. Tinha também cantoras e cantores que eram por ela acompanhados. Lembro dos nomes de alguns dos músicos: os irmãos Abramento, Isaac, Nelson e Judith, respectivamente viola, violino e violoncelo; o oboista Jedaias Norberto, e o violinista José Diamant. A orquestra era pretenciosa no repertório, tocando músicas de autores famosos como Mozart, Vivaldi, Respighi, etc. Boa música. Foi neste ambiente musical que cresci. Eu devia ter uns 9 ou 10 anos quando minha mãe me matriculou na Escola Fluminense de Música, que funcionava numa casa que ficava na rua 15 de Novembro, ao lado do Teatro Municipal. Era dirigida por duas irmãs, uma chamava-se Alice, a outra não me lembro e destinava-se a dar uma educação musical para crianças. Tinha um uniforme que era uma espécie de macacão de calça curta de fustão branco e que trazia no peito, bordado, uma pauta com uma clave de sol e o nome Escola Fluminense de Música. Aprendíamos algo como uma iniciação à teoria musical e tínhamos uma bandinha que se apresentava em certos eventos. Uma vez fomos fazer uma apresentação para ninguém menos que o maestro Villa Lobos, na casa dele, no Rio. O maestro era uma figura assim como o Orson Welles, mas muito simpático. A mulher dele, Dona Mindinha nos serviu um lanche e voltamos para Niterói sem muita noção da importância daquele homem para o qual cantamos e tocamos. Ao longo de minha infância, adolescência e juventude, tentei por diversas vezes estudar algum instrumento de música. Sucessivamente minha mãe me colocou em professores de piano - a Maria da Glória Negreiros dos Anjos, de violino - o maestro Orlando Frederico, de flauta - o flautista Ademar Lannes (meu irmão mais novo acabou sendo aluno dele e tornou-se um excelente flautista). Mas minha preguiça e indisciplina, aliadas à minha musicalidade inata fizeram com que eu não fosse adiante em nenhuma dessas tentativas. Tentei também aprender a tocar violão com um professor cujo nome não me lembro e que morava na rua Dr. Sardinha, em Santa Rosa. Também não fui para diante. Aprendia uns poucos acordes e "macetes" e achava que com eles eu podia tocar algumas músicas. Mas não ia além delas, e mal. Mas sempre muito musical, em várias ocasiões de minha vida ousei na música. Eu tinha uma flauta velha que me deu meu irmão e que depois me tomou-a de volta, com a qual me diverti bastante. Tive a petulância de, uma vez nos anos 70 enquanto trabalhava no Serpro e estando em Curitiba, ir à noite num restaurante onde havia um conjunto se apresentando, chegar junto do piano e ver uma flauta em cima dele. Fiquei por alí ouvindo os músicos e olhando a flauta até que o pianista perguntou se eu tocava. Descaradamente disse que sim e ele me ofereceu o instrumento e juntos tocamos algumas coisas. No Serpro ainda, num festival de música dos empregados eu me apresentei tocando flauta acompanhando um dos concorrentes, o Leão que tocava violão e cantava. Também em nossa casa nas Charitas, reuníamos amigos com os quais fazíamos música. Julio Cezar Christofe da Silva, o "Murce" ao violão ou viola ou piano - era músico multi-instrumentista, o Jefferson Malachini Barros, o "tio ", violonista talentosíssimo e preciosista, Bernardo Ferreiro na bateria ou na tumbadora, e eu na flauta. Eu tinha um diapasão Hering circular cromático, e com ele tocava várias coisas, como se fosse uma gaita. Muitos anos depois, por volta de 1987, o mesmo Jefferson Barroso me convida para assistir a um show do gaitista Maurício Einhorn, na Boate People, que na verdade era um "point" de jazz naquela época no Rio. De há muito eu conhecia a música do Maurício que eu admirava muito. No intervalo do show, fui até ele e perguntei se ele dava aulas. Ele foi muito simpático , disse que sim, mandou que eu comprasse uma gaita tal assim, assim e marcamos as aulas. Tive apenas nove aulas com ele. Naquele tempo eu era executivo de uma multinacional. Trabalhava muito, viajava muito e não tinha tempo para estudar o instrumento. Eu tinha dito ao Maurício que eu não tinha pretensão de ser gaitista e que só queria aprender o suficiente para me divertir com meus amigos. Assim, após a nona aula, ele disse que eu já estava pronto e me mandou embora. O Maurício é uma pessoa adorável. Às vezes ele me telefonava para contar uma piada. Uma figura. Vinte anos depois, já morando em Visconde de Mauá, ao passar pela Escola Municipal ouvi o som de alguns instrumentos de metal (trompetes, trombones, etc). Parei, entrei e dei com um militar fardado ensinando num quadro negro teoria musical às crianças e outro militar ensinando prática instrumental. Sentei-me, esperei acabar a aula e me dirigí ao professor, o então cabo Elton Carlos Rodrigues que me disse que estava ali para formar uma banda de música em Mauá. Perguntei se na banda teria um saxofone tenor, pois eu achava o som desse instrumento muito bonito e desejava aprender a tocá-lo, mas que eu não sabia nada. Falei das minhas experiências musicais anteriores, caóticas e indisciplinadas. Ele me disse que os instrumentos da banda ainda estavam sendo comprados e que eu podia ir frequentando as aulas que quando chegassem os instrumentos ele reservaria um saxofone tenor para mim. Dito e feito. Um dia ele me entregou um lindo saxofone tenor Weril novinho em folha, e mais tarde o uniforme de músico da banda.
Me dediquei com afinco a ele e passei a fazer parte da Banda Musical de Visconde de Mauá. Eu era o mais velho dos músicos (tinha 60 e poucos anos na época) e o mais novo era um garotinho de 10 anos que sentava do meu lado nos ensaios e tocava bombardino, e que nesta foto está do lado da Vanuza, minha companheira no sax tenor.

O contraste entre nós era flagrante e por isso fomos muito fotografados nos eventos em que a banda se apresentou. Tocamos publicamente em muitas ocasiões. Ganhamos concursos de bandas pelo interior do estado. O uniforme era fantástico. Parecíamos valetes de baralho.



A fotografia é de uma apresentação que fizemos na rua Nilo Peçanha, no Rio de Janeiro, na porta da sede do Jockey Club Brasileiro, depois de termos tocado no salão do restaurante do mesmo clube após um almoço oferecido por seus amigos ao patrono da banda, Juan Clinton Llerena que fazia 80 anos. Foi demais. Juntou gente e fomos muito aplaudidos.




Entre outras apresentações, quando a banda tinha apenas 9 meses de idade, animamos a festa junina da Escola Estadual Antônio Quirino, em Visconde de Mauá. Viemos marchando e tocando pela rua até entrarmos sob uma lona de circo aonde fizemos nossa primeira apresentação pública. Isto foi em julho de 2005. Foi um sucesso estrondoso

Um comentário:

Anônimo disse...

Caloga
Quantas coisas em comum.
Não sou musico mas com 8 anos ganhei de meu pai uma gaita Honner de 64 notas que tenho até hoje.Toco pouco e nunca tive uma aula de gaita.
Na mesma época ganhei um acordeon Scandalli de 80 baixos que aprendi a tocar com uma professora Ruth ,na Rua Mariz e Barros ao lado de um prédio que foi soterrado por uma enorme pedra.
Gostaria de vê-lo tocando na banda com essa farda de barão.Muito legal!