De uma forma ou de outra, a experiência com as projeções de arte cinética à noite na parede de edifício em frente à nossa casa acabou dando frutos. Um dos passantes que parou para ver foi o Norton Tavares da Cunha Mello, que vinha a ser amigo do Paulo Ramagem, meu concunhado, casado com a Luiza, irmã da Anna, e ficou impressionado com o que viu e no ato me convidou para ir trabalhar no SERPRO, Serviço Federal de Processamento de Dados - onde era alto funcionário, a fim de preparar material visual para "venda" de prestação de serviços daquela empresa pública para seus clientes (que eram também órgãos públicos). Bom salário, consideração, bom ambiente de trabalho, ótimos colegas. Naquela época (1973) a tecnologia do processamento de dados dava seus primeiros passos.
Os computadores eram do tamanho de geladeiras e eram centenas de vezes menos poderosos do que este no qual estou escrevendo. Era cheio de luzinhas que piscavam como nos primeiros filmes de ficção científica que apresentavam aquelas máquinas como coisas do futuro. As impressoras eram do tamanho de duas máquinas de lavar roupa postas lado a lado e faziam um barulho ensurdecedor. Essas máquinas enguiçavam a toda hora e tinha um engenheiro/mecânico/eletrônico super especializado residente, isto é, morava literalmente no CPD - Centro de Processamento de Dados - que era como se chamava a sala aonde ficavam os computadores. O escritório central do SERPRO era na rua da Lapa, em cima da ACM. Minha cunhada Cristina estava namorando o Gustavo, que acabara de se formar na ESDI e estava buscando um emprego para poder casar. Levei-o para trabalhar comigo. Juntos fizemos muitos trabalhos interessantes que causavam um grande impacto usando o que naquele tempo era a última palavra em comunicação empresarial para fins de venda, os chamados "audio-visuais", nada mais do que conjugação de slides com som usando projetores simultâneos monitorados por fitas magnéticas que continham além da trilha sonora "bips" que controlavam o avanço e o tempo de exposição das imagens em cada projetor. Eu tinha aprendido essa tecnologia em Chicago e os trabalhos que fizemos no SERPRO foram muito elogiados. Muitas das trilhas sonoras foram gravadas pela voz do Cid Moreira que começava sua carreira de locutor. Desfrutávamos de um certo prestígio. Nossa posição era única no meio de toda aquela tecnologia de computação. Os colegas de trabalho (analistas de sistema e programadores de computador - que eram profissões novas na época) eram ótimas pessoas e uns figuraços. A empresa era extremamente liberal para com a aparência e o comportamento de seus empregados, todos um misto de bichos-grilo e cientistas. Barbudos, cabeludos, de sandálias e camisetas. Até mesmo os diretores. Todos tratavam-se por 'você', mesmo ao se dirigirem aos superiores do alto escalão. Como tudo aquilo era novidade, era como se todos pertencêssemos à uma mesma tribo, portanto deveríamos ser iguais, onde a hierarquia era uma mera figura de organograma. Colegas inesquecíveis: o próprio Norton Tavares da Cunha Mello quem me abriu as portas daquela empresa, Francisco Sá, Gravatão (cujo nome verdadeiro me esquecí), Jorginho da Costa Ferreira (meu diretor no CNT), Zulmar Teixeira, Marcos Santiago, Américo Lobo Júnior, Professor Homero, Roberto Garcia de Souza, Jordão, Mário, a dupla Rivero e Pondé, Frederico - o Fredy, Antônio Jorge, Carlos Eduardo Borges Rodrigues, Jozias Benedicto de Moraes Neto, William George Castello Wills, Ricardo Leão; as meninas: Cecília Pinho, Francisca, Aninha - da Seleção, Evanda, Conceição e outros e outras que me lembro das figuras mas não consigo me lembrar dos nomes. Todos com menos de 30 anos, inclusive os diretores e o presidente. O SERPRO tinha aquilo que chamava de URO's (Unidades Regionais de Operações) em 10 estados brasileiro e viajei muitas vezes àquelas localidades (aproveitando parta conhecer o Brasil) para dirigir o trabalho fotográfico (quase sempre levando meu grande amigo e fotógrafo João Castrioto) de aspectos significativos de seus trabalhos com a finalidade de documentação ou de ilustrar algo que eu estivesse projetando.
Um comentário:
Grande amigo de outros tempos, colega da Rua da Lapa e da Gomes Freire de antanho, muitos almoços no Capela e outras comemorações, éramos jovens e a infomática era nossa! Ainda estou no Serpro, agora em Brasília, mas já me aposentando e preparando a volta a uma carreira que interrompi, em artes plásticas... Foi bom encontrar teu blog, a partir de uma pesquisa no Google, lê-lo e fazer uma viagem de volta aos anos 1970... O link do meu blog (que está sempre desatualizado...) é http://joziasbenedicto.blogspot.com/ grande abraço
Jozias Benedicto de Moraes Neto
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