Fiquei um bom tempo em casa. Era uma casa muito interessante na rua Fagundes Varela, no bairro do Ingá, e como todas as nossas casas, tinha sempre um espaço que era o meu estúdio. O lugar em que eu trabalhava, pensava, inventava. Como estava no desvio, fiz de tudo um pouco. Fiz fotografias das coleguinhas de escola de minhas filhas, pintei lencinhos que a Anna fazia para vender. Desenvolvi um projeto de exposições modulares para o Departamento Comercial do Ministério das Relações Exteriores que nunca realmente foi apresentado, mas que era bem interessante. Fomos tocando nossa vida sem stress enquanto eu encucava alguma coisa que ainda não sabia muito bem o que era. Numa dessas encucações descobri sem querer uma propriedade do uso de um feixe de luz desfocada que atravessava slides de papel feitos com fita de teletipo que é toda perfurada aleatóriamente e que era interrompido por prismas de acrílico colorido em movimento que projetavam imagens dinâmicas interessantíssimas. Era um tipo de arte cinética. Conjuguei essas imagens com som e o resultado foi incrível. Usando um projetor de slides, projetava essas imagens em movimento na parede cega do prédio que ficava do outro lado da rua em frente à nossa casa. Os motoristas dos carros que subiam a rua viam aquele 'balé' de imagens e cores e paravam para observar melhor. Decidi que aquilo poderia virar um filme fantástico de animação abstrato. Animação era uma das coisas que eu tinha estudado em Chicago, vendo muitos filmes do Norman MacLaren do National Film Board do Canadá - um gênio da animação. Marcelo Ribeiro, fotógrafo meu amigo, trouxe uma câmera e nós filmamos um bom pedaço e colocamos som. Não me lembro mais quem teria feito um contato com alguém na TV Globo e o Marcelo iria levar o material lá para alguém ver. Achamos que ia dar samba, que íamos ganhar um bom dinheiro vendendo aquele material, mas alguma coisa que até hoje não sei e que nunca entendi direito, deu errado. O Marcelo voltou com o material. O fato é que pouco depois a TV Globo exibia uma abertura de um dos seus programas mais importantes usando uma seqüência de imagens aleatórias e abstratas extremamente semelhantes ao meu projeto. Coisas da vida. Mas a cabeça continuava trabalhando. A Anna começou a fazer lindos tapetes de paredes com a técnica de Macramé que tinha aprendido nos EUA. Elas os vendia bem e foi convidada para fazer uma exposição de seus trabalhos em Vitória, ES, e lá fomos nós numa Rural Willys que tínhamos comprado do Paulo Ramagem para Vitória. Foi o maior sucesso.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
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